Opinião
Ainda a polémica em torno de Mamadou Bá
Todos os muitos que se pronunciaram publicamente nas colunas dos jornais sobre as declarações de Mamadou Bá são brancos.
Ainda a propósito da polémica em torno da intervenção de Mamadou Bá em conferência internacional é interessante notar três factos que moldaram essa discussão e que traçam um perfil sobre a generalidade da comunicação social portuguesa.
Primeiro os personagens. Todos os muitos que se pronunciaram publicamente nas colunas dos jornais sobre as declarações de Mamadou Bá são brancos.
Segundo a temática. Na sua esmagadora maioria, embora com motivações e argumentos diferentes, todos se manifestaram apenas sobre um único fragmento de uma frase da longa intervenção de Mamadou Bá.
Terceiro o contraditório. Nenhum dos múltiplos jornais e revistas que publicaram comentários, muitas vezes injuriosos, sobre o fragmento da frase de Mamadou Bá, publicou ou ouviu Mamadou Bá para que pudesse esclarecer o seu pensamento, defender-se dos ataques, ou simplesmente dizer o que pensa das críticas públicas a que foi sujeito.
Estes três factos em conjunto mostram em que direção corre a liberdade de imprensa em Portugal e o estranho sentido que hoje se dá em certas redações à ideia de contraditório e de pluralismo.
Numa época em que o racismo está a ser combatido por todo o mundo, numa sociedade tão diversa como sempre foi a portuguesa, este tipo de atuação só pode ser motivo de reflexão por parte das direções de informação, dos jornalistas e da generalidade dos que contribuem com a sua opinião nos diversos órgãos de comunicação social.
Uma reflexão séria sobre os caminhos e os desafios do jornalismo de qualidade no mundo atual. Uma leitura atenta de jornais americanos e ingleses de referência pode ajudar a perceber caminhos alternativos.
É preciso ouvir mais as comunidades étnicas e evitar que a opinião publicada seja unilateral e, por isso, enviesada.
Sem dúvida que ouve louváveis exceções, sendo o Jornal de Negócios, que publicou também opinião favorável a Mamadou Bá, uma delas, mas infelizmente quase a única. E como sabemos uma andorinha não faz a Primavera.
Economista