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A CGD em prol do ensino de governantes

Não é vergonha nenhuma que o BCE mande os nossos gestores estudar para fora. Aliás, Costa já tinha avisado: a paixão pela educação era para regressar. Muito justamente com o apoio da instituição já vocacionada para pagar propinas em Paris, que o diga o eng. Sócrates. 

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Mentes retorcidas e espíritos limitados entretiveram-se nestes últimos dias a zurzir no nosso querido Governo a propósito da suposta bronca dos administradores da Caixa Geral de Depósitos. Seguramente movidos pela inveja, e incapazes de perscrutar o verdadeiro sentido, profundidade e alcance das deliberações emanadas pelas autoridades que superiormente nos dirigem, vieram por ai tentar enlamear e parodiar ministros e secretários de Estado, só porque um tal BCE embirrou com as escolhas que legitimamente fizeram. Uns pobres a que, lamentavelmente, jornais e televisões continuam a dar voz.

 

Ora, uma vez que até à hora deste escrito, nenhum dos nossos governantes quis vir a terreiro adiantar explicações - o que aliás só lhe fica bem, para não alimentar conversas imbecis -, aproveito para lançar alguma luz sobre o sucedido.

 

É apenas a falta de memória que leva a não entender que subjacente a tudo isto está a "paixão pela Educação", que António Costa há pouco mais de um ano enalteceu em Faro, dizendo, "É hora de voltarmos a dizer que a Educação tem de ser a paixão deste país e é necessário investir na nossa Educação".

 

É claro que alguns leram nestas declarações o propósito de investir na educação dos portugueses em geral, mas aquilo que o primeiro-ministro queria anunciar era a necessidade que já antevia de se investir na instrução dos membros do seu Governo e demais apaniguados, aqui se incluindo naturalmente os gestores públicos.

 

Aliás nem outra coisa poderia ser. Se alguma preocupação existisse com a educação do povo seguramente não se iria nomear para ministro alguém que tem vindo de forma disciplinada a estilhaçar o esquema de avaliações a mata cavalos, para completa desorientação de alunos, pais e professores. Nada disso. A educação da classe política é tarefa muito mais nobre e profícua e deveríamos estar muito gratos ao BCE por ter incorporado esse desígnio governativo, mandando para a escola três dos administradores nomeados, cujo desempenho será fortemente enriquecido para nosso contentamento e benefício.

 

A circunstância de ser a Caixa a pagar as propinas (e certamente também as deslocações, o alojamento, os lápis, a borracha e os cadernos) não deve constituir nenhuma estranheza. Aliás, essa prestimosa instituição tem nos seus anais uma longa tradição em prol do ensino de governantes. Todos nos recordamos que quando o Eng. Sócrates decidiu ir estudar Filosofia, igualmente para Paris, quem lhe adiantou a verba foi precisamente a CGD. Investimento, aliás, coroado do maior êxito pois que a respectiva tese publicada em livro vendeu milhares de cópias garantindo ao autor um justíssimo lugar no top das vendas.

 

Quanto à história dos oito administradores não executivos que foram chumbados é apenas reveladora de uma diferença cultural entre os portugueses e os burocratas cinzentões de Bruxelas, e nesse sentido não nos deve intimidar. O que se passa é que aquela gente, que seguramente tem muito pouco que fazer, meteu-se a conferir se os cargos desempenhados pelas personalidades apontadas excediam os limites que a nossa própria lei estabelecia. Ora, isto é coisa que um português nunca faria em relação aos outros. Se a lei não é deles, porque raio se preocupam se a queremos aplicar ou não? 

 

Atém do mais já deviam ter percebido, aquando da polémica das sanções, que para os portugueses as leis, mesmo quando as fazem e votam, só são para aplicar quando e como lhes der jeito. Decididamente só mal entendidos.

Jornalista

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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