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O 25 de Abril sempre

Muitos dos textos que hoje podemos ler livremente não estariam publicados, vítimas do lápis azul. No Negócios como noutros jornais. O valor da liberdade tem de ser sistematicamente relembrado. Porque só se valoriza aquilo que conhecemos como perda. A paz depois da guerra, a liberdade depois da ditadura.

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Nos conturbados tempos financeiros em que vivemos, com preocupantes ameaças a princípios básicos de liberdade e igualdade, é preciso não esquecer que todos os sacrifícios financeiros valem a pena. Em defesa da liberdade e da igualdade. E, no momento em que vive Portugal, em defesa da independência financeira.

Os problemas económicos e financeiros ultrapassam-se. O trabalho que o Negócios publica esta quarta-feira revela bem como Portugal mudou. Os indicadores de saúde e de educação, a estrutura da economia, tudo nos revela que estamos muito longe dos tempos da ditadura. Há momentos em que é preciso ter este olhar de longo prazo. Para evitarmos cair na ratoeira de comparar o que temos e somos com aquilo que gostaríamos de ter ou de ser, em vez de confrontarmos com aquilo que fomos ou tivemos.

O 25 de Abril financeiro


Vamos festejar os 40 anos do 25 de Abril na semana em que Portugal dá o passo decisivo para conquistar a independência financeira, libertando-se da ameaça de um segundo resgate. Uma conquista que é de todos nós portugueses, ainda que com a ajuda de um enquadramento político europeu que deixou de ser marcado pelo dogmatismo e pela irresponsabilidade.

Ficámos a saber que, na discrição dos corredores de Frankfurt, o BCE decidiu mudar as regras de acesso aos seus fundos para um fato que tem a medida certa para Portugal conseguir sair do plano da troika sem ter de pedir um programa cautelar. Foi no início de Abril, o que nos está a facilitar bastante a vida.

E esta quarta-feira, dia 23 de Abril de 2014, o Tesouro vai solicitar um empréstimo com a emissão de Obrigações a 10 anos e no modelo de leilão, ou seja, sem a rede de apoio dos bancos como aconteceu nas quatro anteriores idas ao mercado na era da troika. Antecipa-se um sucesso, sinónimo de obtenção do empréstimo com uma taxa de juro inferior a 4%.

É um passo decisivo, mas que exige novos passos. A entrada nos mercados, o efectivo e real regresso, é um processo. Exige que se seja capaz de repetir com frequência estas idas ao mercado.

A irracionalidade que os mercados financeiros revelaram, através desta crise, e aquela que estão de novo a mostrar, com o entusiasmo com que recebem agora nos braços a Grécia, a Irlanda e Portugal, recomenda cautela. Estar dependente dos credores institucionais como o FMI e a Zona Euro significa aquilo que temos conhecido: estar condicionado na liberdade de decidir políticas. O que interessa a um credor institucional é garantir que as decisões políticas melhoram as condições de pagarmos as nossas dívidas. Os mercados não têm essa racionalidade. Entusiasmam-se e deprimem-se. Nas euforias emprestam sem critério, quando entra em pânico lançam-nos inesperadamente para o abismo.

Este regresso aos mercados marca simbolicamente a reconquista lenta da liberdade financeira. Num 25 de Abril com um selo ainda demasiado financeiro.

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