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Uma década (perdida) para Portugal

As recentes previsões económicas para o país são arrasadoras. Nas últimas semanas, o FMI, o Barclays e a própria Católica-Lisbon (NECEP) apresentaram previsões de crescimento para 2016 entre 0,7% e 1%, com estimativas para 2017 que variam entre os 0,3% e os 1,1% e valores para 2018 que não ultrapassam os 1,5%.

Adicionalmente, o investimento (FBCF) está nas ruas da amargura, tendo caído 2% do PIB no 1.º trimestre do ano e a balança de transações está a caminho de ficar negativa pela primeira vez desde 2012. Igualmente preocupante são os riscos e a tendência qualitativa apresentada em qualquer uma destas análises, que aponta para um agravamento das previsões, fruto de acontecimentos com impactos incertos como o Brexit, que não está refletido em qualquer um destes números.

 

Isto significa que a economia nacional está claramente estagnada. Ao longo de 3 anos (2016-18) está previsto crescermos abaixo da tendência dos dois anos passados e a continuar a aumentar o nosso fosso para a média europeia. Foi há pouco mais de um ano que o PS apresentou, no seu relatório "Uma década para Portugal", um conjunto de medidas que tinham como potencial quase duplicar a trajetória de crescimento até então apontada para o país. Volvido este tempo, o resultado que o Governo PS tem para apresentar é a certeza de um crescimento quase metade do previsto para este primeiro ano, e a instalação de um sentimento de grande incerteza sobre o futuro económico do país.

 

Esta incerteza é uma questão central, na medida em que o investimento, a aposta e o risco, ingredientes necessários para o crescimento, só são possíveis num ambiente económico de confiança sobre o futuro. E esta é a grande alteração verificada ao longo dos últimos meses. De facto, quando se discute a visão económica que o relatório do PS preconizava e que o atual Governo defende, muitas vezes se refere a dúvida em apostar no consumo como base para o crescimento. Mas comparando os números apresentados nesse documento com a atual realidade económica, o que é dramaticamente diferente não é o crescimento do consumo, mas antes os valores de investimento, onde existe um hiato abissal entre o papel e a realidade.

 

O atual Governo, e a solução parlamentar que o suporta, tem visto a sua legitimidade e estabilidade questionadas por muitos no espaço público e mediático. E a política económica que daí emana, condicionada por visões hostis ao papel dos mercados e da iniciativa privada, tem estado sob escrutínio e crítica permanente de políticos e analistas. Mas parece-me que a principal reação ao atual arranjo político e visão económica está a ser dada por milhares de empresários silenciosos, nacionais e internacionais, que reduziram significativamente o seu investimento no país.

 

Como resultado, podemos afirmar hoje com segurança que 2008-2018 será uma década perdida para Portugal; serão necessários muito mais de 10 anos para recuperar aquele que era o nosso nível económico em 2008, antes da crise se instalar pelo mundo! E parece-me que será difícil que a perspetiva se altere sem que o equilíbrio parlamentar que suporta o Governo se modifique. Esperemos que não seja necessário esperar até 2018 para que os eleitores compreendam o que os empresários já descobriram.

 

Diretor da Católica-Lisbon School of Business & Economics

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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