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O "hype" do Web Summit

Ao longo dos últimos anos, as notícias sobre Portugal na imprensa internacional têm variado entre a preocupação e o pessimismo face à nossa situação e perspetiva económica.

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Mas, nas últimas semanas, o Guardian, a Reuters, a France Press e vários outros meios destacaram a dinâmica empreendedora de Portugal, e de Lisboa em particular. No entanto, os problemas económicos que têm motivado esta escrita mais sombria não desapareceram, como demonstra a discussão do Orçamento do Estado para 2017 que decorre estes dias.

 

A explicação para estes artigos é em parte o efeito Web Summit em Portugal. Uma das maiores mostras da economia digital e do empreendedorismo a nível global começa hoje, e com ela milhares de empreendedores, investidores, gurus, e curiosos que passam por Lisboa. Será sem dúvida um grande acontecimento, que facilmente pode induzir inúmeras hipérboles. Temos presente outros grandes eventos, como o Euro, a passar por Portugal com grande fanfarra, mas que tiveram um resultado até porventura negativo para a nossa economia. Por isso, poderia perguntar-se o mesmo sobre o Web Summit. Usando um jargão apropriado à comunidade, dir-se-ia que teremos muito "hype" esta semana, para na próxima esquecermos o momento e voltarmos ao país real, incluindo a votação do Orçamento do Estado.

 

Acredito que desta vez será diferente, em particular porque temos hoje na nossa comunidade atores desta nova economia digital. E se a sua expressão económica atual é ainda pequena, o potencial é imenso e crescente. De facto, quando existem sete empresas nacionais entre as cinquenta que os investidores presentes no Web Summit sinalizaram como sendo as mais interessantes para avaliações de potencial investimento, compreendemos que já não somos apenas um palco para que outros venham mostrar as suas valências. Somos já parte do grupo dos protagonistas neste palco global. E este processo não se iniciou este ano, sendo importante lembrar que a Codacy, uma start-up nacional, cujo CEO está entre os oradores do evento, venceu o concurso do Web Summit faz dois anos; que a Unbabel, empresa entre as sete acima destacadas, anunciou na semana passada uma ronda de investimento de cinco milhões de dólares; ou que o CEO da Venian Networks estará a falar sobre a Internet das Coisas e o futuro da mobilidade; e ainda que a Católica-Lisbon terá uma sessão inteira por sua conta. E poderia citar inúmeros outros líderes nacionais desta nova economia.

 

Muitas das nossas start-ups de referência são produto de projetos de investigação, conhecimento e dinâmica empreendedora promovida no seio das universidades de norte a sul do país. Todos os casos que referi associados ao Web Summit são disso exemplos. E se muitas resultam de faculdades de ciência e tecnologia, também as escolas de economia e gestão nacionais são hoje protagonistas deste movimento. Nesta área da inovação e empreendedorismo a Católica-Lisbon tem sido pioneira. Temos feito um trabalho profundo e consistente nestes domínios, que se reflete nos professores e áreas de investigação em que apostamos, nos alunos e nos seus programas educativos, e nas iniciativas que dinamizamos com a comunidade. Foi precisamente deste trabalho que saiu o Patient Innovation. Nasceu como um projeto de investigação da faculdade, em colaboração com o MIT e Carnegie Mellon, a partir do qual se criou uma plataforma de partilha de ideias e soluções. O Patient Innovation é hoje uma plataforma digital e rede social criada com o objetivo de promover a partilha de conhecimento, estratégias e soluções inovadoras desenvolvidas por doentes ou cuidadores para ultrapassar problemas impostos por uma doença ou condição de saúde. Estas inovações, em que os próprios utilizadores desenvolvem as soluções para resolverem os seus problemas, estão a revolucionar o nosso entendimento sobre a inovação. A plataforma online já recolheu mais de 650 inovações, oriundas de uma comunidade global superior a 40.000 pessoas. É esta iniciativa que constitui a base para que a Católica-Lisbon seja a única universidade portuguesa, e uma das poucas a nível global, a dinamizar uma sessão no Web Summit. É o reconhecimento de um projeto nacional de impacto global, e mais um passo de afirmação do pioneirismo e liderança da Faculdade.

 

Se a Unbabel se tornar na Airbnb da tradução, a Venian se transformar numa Cisco das comunicações entre veículos, o Patient Innovation for o kickstarter da inovação da saúde, entre muitas outras com igual potencial, teremos transformado a economia do país! Venha a Web Summit e todo o seu "hype." Não me importo se a perceção e entusiasmo com o empreendedorismo do país estiver à frente da realidade, porque numa economia empreendedora o entusiasmo é também parte da sua materialização!

 

Diretor da Católica-Lisbon School of Business & Economics

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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