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O silêncio de Pinho

Para a justiça e para a política. Como foi visível. Pinho, sobranceiro, dançou no meio de magistrados e deputados. E saiu em ombros.

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Harpo Marx era diferente dos seus irmãos: não sendo mudo, nunca falava. Preferia utilizar, para se exprimir, uma buzina ou, em momentos mais melancólicos, uma harpa. A sua voz é, ainda hoje, um dos segredos mais bem guardados da história do cinema. Manuel Pinho nunca poderia ter feito parte do clã dos irmãos Marx. É certo que, depois da sua prestação no DCIAP e na Assembleia da República, poderíamos tentar associá-lo a Harpo. Mas o seu silêncio nada teve de divertido. Para além disso, já o provou, a sua especialidade não é tocar buzinas ou mesmo dedilhar as cordas de uma harpa. Só o seu ar angélico o aproxima fugazmente da genialidade de Harpo. Assim não é por aí que ficará na história. O silêncio inocente de Manuel Pinho é um incómodo para o regime. Para a justiça e para a política. Como foi visível. Pinho, sobranceiro, dançou no meio de magistrados e deputados. E saiu em ombros. Pinho não é culpado nem inocente, como nenhum dos seres humanos. Mas a forma como driblou o MP e os deputados foi um desprestígio para as instituições que, dizem, garantem a democracia em Portugal.

 

Claro que Manuel Pinho pode fazer de Harpo Marx e entrar mudo e sair calado. É um direito. O que não parece normal é a justiça dar um ar de incompetência atroz (cercada por formalidades jurídicas) e os deputados parecerem ovelhas Chonés perante os sorrisos e os silêncios de Pinho. As três horas que esteve no Parlamento serviram para nada, excepto para mostrarem que a factura da electricidade é uma vaca leiteira. Nada que admire: este é um país onde há impostos e taxas mesmo nos sítios menos normais. Aí Pinho foi letal. O silêncio de Pinho foi ensurdecedor. Mostrou a falência das instituições que velam pela justiça e pela democracia. Contra incidentes processuais não há forma de soltar a voz de quem prefere o silêncio. Um filme dos irmãos Marx andou a ser rodado no DCIAP e no Parlamento num único dia. Só que não existe ali algum motivo para darmos algumas gargalhadas.

 

Grande repórter

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