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07 de Novembro de 2017 às 20:15

O labirinto

De défice em défice, de dívida em dívida, de culpa em culpa, avançámos para a descrença nacional. É um processo longo em que os portugueses se sentem abandonados pelo destino e entregues a uma sorte alheia.

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A última janela para a felicidade fomos encontrá-la na União Europeia e no euro. O sonho transformou-se no pesadelo actual, porque os bons resultados que permitem sossegar as clientelas do PCP e do BE no OE não escondem a dívida brutal. Mas esta descrença não é de hoje. Em 1867, nas páginas do "Distrito de Évora", Eça de Queirós ensaiava um discurso cortante que o tornaria, mais tarde, junto a Ramalho Ortigão, um temido e arguto observador da sociedade portuguesa: "Temos um deficit de 5.000 contos. Esta é a negra, a terrível, a assustadora, verdade. Quem o promoveu? Quem o criou? De que desperdícios incalculáveis se formou? Como cresceu? Quem o alarga? É o governo? Foram estes homens que combatem, foram aqueles que defendem, foram aqueles que estão mudos? Não. Não foi ninguém. Foram as necessidades, as incúrias consecutivas, os maus métodos consolidados, a péssima administração de todos, o desperdício de todos." Os anos passaram e nada, aparentemente, mudou.

 

No meio desta crise de todos os dias, como é a do sector da saúde pública, cujo desinvestimento brutal nos últimos anos levou a situações vergonhosas, parecemos todos filhos de Fradique Mendes. Veja-se o labirinto de Minotauro onde se perde a nossa política. Enquanto o Governo estremece, fustigado pelos incêndios e Tancos, o PSD faz uma longa campanha, com final só lá para Janeiro ou Fevereiro, para escolher um novo líder e uma linha estratégica. Portugal pode esperar? Talvez. Afinal quando vamos buscar para liderar a Protecção Civil alguém que já estava reformado e temos a liderar os bombeiros alguém que fez uma longa carreira política e autárquica e já deveria estar reformado, que podemos antever para discutir o futuro da segurança do ambiente nacional? É neste vazio que Portugal continua a mover-se. Com a dívida sempre por perto.

 

Grande repórter

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