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O futebol da redenção

A equipa nacional, cheia de talentos naturais, não consegue dar dois toques seguidos na bola. Resta a crença: em Ronaldo e em Patrício.

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Winston Churchill foi um militante frequentador do Reid's na Madeira, mas nunca se debruçou sobre o universo do futebol português. Mas isso não o impediu de, um dia, escrever: "São estranhos estes italianos. Perdem a guerra como se fosse uma partida de futebol e jogam as partidas como se fosse uma guerra." Não imaginamos o que escreveria sobre o futebol português da actualidade, onde já se deixou de discutir a qualidade das jogadas ou dos golos, e só se analisam teorias da conspiração. O futebol nacional tornou-se um "reality show". As belas paisagens de muitos estádios desertos de espectadores servem para que o espectáculo prometa ser sempre líder de audiências até ao último jogo da temporada. Quando a selecção entra em campo é outra coisa: o país une-se, esperando a vitória que o redima dos anos de José Sócrates e de Passos Coelho, da austeridade e de um Fisco voraz. Depois de anos de vitórias morais, onde se jogava bem, mas se perdia por culpa própria ou dos árbitros, Cristiano Ronaldo (e Scolari) trouxe orgulho e vitórias. Agora, neste Mundial, com exibições miseráveis, só esperamos que uma vitória, de qualquer maneira, salve o país.

 

Sabe-se que o futebol português é uma espécie de refém do acaso. Por acaso, ganhamos. Por acaso, perdemos. Nunca se ganha esmagadoramente. Nunca se perde porque fomos humilhados. Entre o acaso há a sorte e o azar. E as contas matemáticas. Por isso acreditamos em tudo, até que podemos chegar à final. Portugal está refém de resultados. Já não quer saber da beleza do futebol, porque assim não chega lá: a equipa nacional, cheia de talentos naturais, não consegue dar dois toques seguidos na bola. Resta a crença: em Ronaldo e em Patrício. Para que não fiquemos como a Argentina, que criou um ritual presidido por Maradona e que tinha como guru Messi e, após o choque com a Croácia, percebeu que o futebol não a salva da crise existencial em que vive há muito. No futebol, só a vitória é divina. Mas é, também, uma rosa com espinhos. É lindo, mas pica. E nele há sempre vencedores e vencidos.

 

Grande repórter

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