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Fernando Sobral - Jornalista fsobral@negocios.pt 07 de Fevereiro de 2017 às 19:45

O desacordo ortográfico

Sabe-se que o chamado AO foi o fruto de uma conjugação astral de interesses: o económico (de alguns editores de livros estruturantes), académico (de sábios que queriam ficar na História) e de políticos (que acharam que estavam a criar um novo Renascimento).

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Caetano Veloso escreveu uma das coisas mais bonitas sobre a língua portuguesa. Não era uma canção. Era simplesmente uma frase: "Assim, amar a língua portuguesa é amar sua capacidade como instrumento universal: falar português é livrar-se da prisão do português." O acordo ortográfico (o célebre AO90) amarrou a língua portuguesa a âncoras demasiado pesadas e idiotas. Ao querer criar mínimos denominadores comuns inventou alarvidades gritantes. Não uniu os países que falam a língua portuguesa: criou o caos total. Instituído o pandemónio, já que o acordo é cumprido por quem quer, a classe política, que nesse aspecto é tão limitada como os chamados sábios que quiseram criar o monstro das bolachas em que se tornou o denominado acordo, assinou de cruz. E agora diz que, contra factos, não há argumentos. 


A deputada socialista Gabriela Canavilhas, em declarações ao Público é o sinal desta patuscada política: "Não pode haver iniciativas unilaterais por parte de país nenhum, e espero que o presidente da Academia tenha articulado a sua posição com as academias de outros países e com o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, que tem a seu cargo a elaboração do Vocabulário Ortográfico Comum, que é a sede própria para se estabelecer alterações ao Acordo." Como? É nestes momentos que se percebe como funciona alguma elite nacional, o que impede que qualquer lógica de bom senso triunfe: as normas burocráticas são o labirinto que impossibilita qualquer mudança.

 

Sabe-se que o chamado AO foi o fruto de uma conjugação astral de interesses: o económico (de alguns editores de livros estruturantes), académico (de sábios que queriam ficar na História) e de políticos (que acharam que estavam a criar um novo Renascimento). O resultado foram coisas ridículas como transformar "alto e pára o baile" em "alto e para o baile". Ao mesmo tempo criou-se um problema acrescido a países como Angola, ainda numa fase de solidificação da língua portuguesa, dando-lhe mais instabilidade. O AO90 é uma praga. Precisa de ser aniquilado de vez.

 

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