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O cowboy Trump

Trump quer reactivar o Sétimo de Cavalaria de Custer e impor a sua vontade com base na ameaça ou na bala. Não há aqui lugar para cachimbos da paz. Só há danças da guerra.

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O antigo secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger, gostava de se comparar a John Wayne, aquele que, para ele, era o cowboy perfeito. Compreendia-se. Como este, Kissinger gostava de actuar sozinho, algo que os americanos adoram. O cowboy, com o seu elegante cavalo e com a pistola no coldre, entrava numa cidade que estava nas mãos de pistoleiros e estes fugiam. A paz voltava ao povoado. 


Donald Trump quer ocupar esse lugar. Rasga acordos com ar beligerante e desafia o bom senso. Instalou a lei do faroeste no mundo: nenhum acordo com os Estados Unidos é para levar a sério. Uns dias depois Trump poderá rasgá-lo. Deixou de haver lugar para a segurança nos negócios ou na diplomacia. Trump quer reactivar o Sétimo de Cavalaria de Custer e impor a sua vontade com base na ameaça ou na bala. Não há aqui lugar para cachimbos da paz. Só há danças da guerra. Ao renunciar ao acordo sobre o nuclear com o Irão, Trump trocou as voltas à sensatez e apenas ouviu John Bolton, Israel e a Arábia Saudita. Todos querem destruir o Irão. A retórica é idêntica ao de antes da guerra com o Iraque, que "tinha", lembram-se, armas de destruição massiva. Não tinha.

 

Depois da declaração de Trump vamos deixar de falar do acordo sobre o nuclear. A questão não é essa. É mais vasta. Trump quer impor uma América hegemónica no mundo, a reinar através do medo. Não escuta os aliados europeus e, pelo contrário, despreza-os e ameaça as suas empresas com sanções se continuarem a negociar com o Irão (à luz de um acordo que os EUA rubricaram). Com isso só a Boeing e a Airbus vão perder negócios de 39 mil milhões de dólares para renovar a aviação civil iraniana. Envia mensagens para a Rússia e para a China (o maior parceiro comercial de Teerão), para onde o Irão se virará se tudo desabar. E, no seu discurso, pediu ainda a sublevação dos iranianos contra os seus líderes, minando assim o espaço de manobra do mais reformista Rouhani. Trump quer que o Irão responda agressivamente. Para poder ser um cowboy. 

 

Grande repórter

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