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Fernando Sobral - Jornalista fsobral@negocios.pt 25 de Fevereiro de 2018 às 18:45

Negrão e a lei da gravidade

Nos desenhos animados é fácil alterar as regras da física. Personagens como o Coiote ou o gato Silvestre costumam ser vítimas da manipulação das leis da gravidade. Muitas vezes ficam com o corpo suspenso no ar, no meio de um abismo, até perceberem a sua situação.

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Outras vezes permanecem em movimento até chocarem com uma matéria sólida. E, quando atravessam uma matéria sólida, depois de disparados por um canhão, deixam um buraco conforme o seu perímetro. Fernando Negrão, não tendo feito um MBA no mundo dos desenhos animados, arrisca-se a ser o primeiro líder parlamentar do PSD a desafiar todas as leis da gravidade. E a tornar-se o gato Silvestre dos Passos Perdidos. Qualquer regra tem de ter uma excepção. Compreende-se a situação de Negrão: está em campo aberto, como alvo de uma guerra não declarada entre Rui Rio e a maioria dos deputados (estes que sabem que se o actual líder durar até 2019 não os escolherá para fazerem parte das listas).

 

A guerra fria entre Rio e Hugo Soares, Maria Luís Albuquerque ou Paula Teixeira da Cruz será prolongada, subterrânea e soez. Porque representa mais do que uma simples luta de facções ou uma retaliação por parte dos que foram a corte de Passos Coelho contra uma nova era no PSD. Há raízes mais profundas, como o mostra a guerrilha contra Elina Fraga, que se alimenta nas diferentes visões sobre a advocacia e o seu lugar nas relações entre o Estado e a sociedade.

 

Tudo isto não invalida a deficiente tentativa de manipulação das leis da gravidade política por Fernando Negrão. Político com experiência (que conhece os meandros da PJ e da magistratura), caiu na mais infantil das explicações para justificar o miserável número de votos a seu favor na eleição para líder da bancada. Quando disse que os votos em branco (32) se podiam juntar aos a favor (35), porque eram "benefícios da dúvida", passou a merecer o Prémio Nobel da Contabilidade Criativa. É uma defesa frouxa para uma derrota política esperada. Negrão fica agora em suspenso no ar. À espera de cair no abismo.

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