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A ofensiva da Arábia Saudita

A visita de Mohammad bin Salman a Londres é o mais recente acto da campanha de relações públicas do reino saudita para conquistar o Ocidente. A OPV da Saudi Aramco é um bom trunfo.

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Há visitas assim. Começam com a invasão de cartazes do príncipe herdeiro saudita Mohammad bin Salman, nos táxis de Londres e nas páginas de jornais britânicos a dizer que ele "está trazer a mudança à Arábia Saudita" e que o seu país e a Grã-Bretanha são "reinos unidos" e acabam na compra milionária de dezenas de caças Typhoon. Diz-se que o custo da campanha promocional terá atingido o milhão de euros. Pouco para os bolsos cheios de Riade. Tudo em nome da visita de três dias a Londres num cenário de Brexit, em que a Grã-Bretanha procura novos aliados no mundo. O negócio que dá oxigénio à BAE Systems é o mais claro de tudo aquilo que passa por esta estratégia de Bin Salman, que pretende angariar aliados para as suas opções para a Arábia Saudita e para o Médio Oriente, onde se enquadram o seu projecto Visão 2030, o cerco ao Qatar e a guerra sangrenta no Iémen, que não merece tanta relevância na imprensa internacional como a da Síria. Isto para já não falar da tentativa de golpe de Estado ensaiada com a detenção do primeiro-ministro libanês Hariri em Riade e que continua por explicar na totalidade. Há outro dado importante: Bin Salman é o homem que decidirá em que bolsa será colocada a oferta inicial de venda de parte da Saudi Aramco, a maior petrolífera do mundo. Washington e Londres olham com cobiça para a decisão. Se os 5% das suas acções colocadas à venda atingirem o valor de 2 triliões de dólares, como quer Riade, o prémio para a bolsa vendedora atingiria 100 biliões de dólares. Seria um belo bolo para a bolsa de Nova Iorque ou para a de Londres.

 

Bin Salman joga com isso. E os esforços de propaganda internacional, que o apresentam como "o grande reformador", não encobrem aquilo que sob a sua batuta a Arábia Saudita tem feito recentemente. Isto, claro, se esquecermos que a fé wahhabista está por trás dos líderes da Al-Qaeda ou do Daesh. E que a luta "contra a corrupção" foi uma nuvem de pó para esconder a luta de poder que ocorreu em Riade e que lhe permitiu afastar rivais e ficar com as suas fortunas. Mas o Ocidente só olha agora para os negócios que Riade pode propiciar e para o ódio ao Irão, que Bin Salman quer guerrear com o apoio ocidental. Bin Salman joga com o poderio económico da Arábia Saudita para calar os críticos na região e para seduzir o Ocidente. E este, para já, vai atrás do som do dinheiro.

 

Acordo bilateral: petróleo une Timor-Leste à Austrália

 

Um velho diferendo terá chegado ao fim. A Austrália e Timor-Leste assinaram na semana passada em Nova Iorque um acordo histórico sobre a fronteira marítima permanente que divide os dois países no mar de Timor, e que põe fim à disputa relacionada com os direitos de exploração de reservas de petróleo e de gás natural existentes naquele mar. O conflito remonta a 2002, quando Timor-Leste se tornou independente da Indonésia depois de ter estado ocupado pelas tropas do país desde 1975, quando Portugal pôs fim à colonização do território, sendo que desde então não havia fronteiras marítimas permanentes definidas no mar partilhado por Timor e pela Austrália. Na altura, ambos aceitaram que fosse estabelecida uma fronteira temporária no mar de Timor, mas Díli acabaria por alegar que foi forçado a subscrever esse acordo "injusto". O acordo assinado pela MNE australiana, Julie Bishop, e o ministro timorense Hermenegildo Augusto Cabral Pereira consegue um dos objectivos de Timor-Leste, uma das nações mais pobres do mundo, que é obter receitas estáveis para permitir o desenvolvimento económico e oportunidades de emprego para os mais jovens.

 

O novo acordo prevê que Timor vai receber pelo menos 70% das receitas originárias no maior poço petrolífero da região, o Greater Sunrise, cujo valor total deverá ascender a cerca de 32 mil milhões de dólares, receitas que, até agora, eram divididas por igual entre as duas nações. A par disto, a Austrália perde jurisdição sobre os poços que partilha actualmente com os timorenses, cuja economia depende em grande medida da exploração dos combustíveis fósseis. Por definir está a opção de um gasoduto do Greater Sunrise para Darwin (DLNG) ou para o Sul de Timor-Leste (TLNG), com Timor a receber 80% das receitas e a Austrália, 20%, na primeira opção ou respectivamente 70% e 30% na segunda.

 

Conferência: "Uma Faixa, Uma Rota"

 

A conferência "Financing Belt & Road", organizada pela Associação Amigos da Nova Rota da Seda, decorrerá dia 23 de Março no ISEG (Rua do Quelhas, 6). Criada em 2013 pelo governo chinês, a iniciativa "Uma Faixa, Uma Rota" prevê uma ligação mais profunda entre países da Ásia, Europa e África. Na conferência irão debater-se temas como "a importância" da iniciativa chinesa, a sua forma de financiamento e como aceder aos seus benefícios. Entre os presentes para falar do tema estarão Augusto Santos Silva, MNE português, Cai Run, embaixador da China em Portugal, Danny Alexander, vice-presidente do Asia Infrastructure Investment Bank, e Wu Shiwei, vice-presidente do China Development Bank.

 

Índia: o abraço francês

 

O Presidente francês Emmanuel Macron deslocou-se à Índia, onde assinou um acordo que prevê o reforço da cooperação militar entre os dois países no oceano Índico, uma medida entendida como contraponto à crescente influência da China na região. O acordo prevê que as bases navais de ambos os países no Índico abrirão as suas portas a navios da outra nação. Um dos motivos de preocupação de França e da Índia é a abertura pela China de uma base naval em Djibouti no ano passado. França é a nação ocidental com uma presença territorial mais forte no Índico, nomeadamente nas ilhas Reunião.

 

Macau: livro sobre a Faixa e a Rota

 

A iniciativa da China "Uma Faixa, Uma Rota" e o papel de Macau e dos países de língua portuguesa são tema de um livro que acaba de ser publicado pelo Instituto Internacional de Macau (IIM). O livro "China's Belt and Road Initiative - The role of Macao and the Portuguese-speaking countries" foi produzido pela Agência de Informação e Notícias Macaulink e integra análises de Thomas Chan, Paul Mooney, Paulo Figueiredo e José Luís Sales Marques.

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