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Opinião
06 de Novembro de 2017 às 21:50

A encruzilhada saudita

A demissão de vários ministros e a prisão de vários príncipes da Arábia Saudita coincidem com a próxima OPV da Saudi Aramco. Donald Trump quer que a petrolífera esteja na bolsa americana.  

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A Arábia Saudita vive momentos complexos. Numa fase de mudança interna que é visível, apostada em reforçar o seu poder na região (de que é exemplo o cerco ao Qatar e o conflito latente com o Irão), mas com debilidades notórias, Riade está a chegar ao momento da verdade. A demissão de vários ministros e a detenção de uma dúzia de príncipes da larga família real, como resultado de uma investigação anticorrupção, evidenciam uma luta de poder no reino saudita. Entre os presos está o príncipe Alwaleed bin Talal, um milionário que detém a forma de investimento Kingdom Holding. Entre os demitidos estão o príncipe Mitaab bin Abdullah, o poderoso chefe da Guara Nacional, e Adel Faqih, o ministro da Economia. Também o comandante da marinha, Abdullah al-Sultan, foi substituído por Fahad al-Ghafli. A explicação oficial para esta acção é a colocação de interesses pessoais acima do interesse público. O comité recém-criado que alinhou esta operação é dirigido pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, cada vez o homem mais poderoso do reino. Assiste-se assim a uma aceleração da mudança no reino, algo visível desde Junho, quando Mohammed bin Salman foi nomeado herdeiro do trono. O seu ambicioso programa de transformação do reino (e da sua economia), Vision 2030, foi apresentado. E tudo se parece reconduzir a esse choque. Não deixa de ser sintomático que esta acção decorra após o anúncio do fim da proibição de as mulheres sauditas poderem conduzir e de Mohammed bin Salman ter referido que deseja o regresso do país a uma forma "moderada" de Islão. Mas enquanto isso faz um cerco sem tréguas ao Qatar e continua uma guerra sangrenta no Iémen contra os rebeldes houthis. Outras mudanças poderão acontecer em breve. Mohammed bin Salman consegue também ser agora o detentor do poder máximo a nível da segurança: é o ministro da Defesa, o chefe da segurança nacional e agora, também, domina a Guarda Nacional. As detenções de pessoas ligadas ao sector da comunicação social saudita mostram que esse poder alarga-se agora também aqui.  Sabe-se também que Trump pediu à Arábia Saudita para colocar o gigante petrolífero Saudi Aramco na bolsa de Nova Iorque, seja na NYSE ou no Nasdaq. A Saudi Aramco deve colocar 5% das suas acções no mercado no próximo ano o que poderá levar à maior OPV da história, e render cerca de 100 biliões de dólares. Trump quer que essa oferta seja feita nos EUA. Esta OPV é central para a implementação do projecto Vision 2030 de bin Salman, que quer terminar a dependência da Arábia Saudita em relação ao petróleo.

 

Donald Trump: a visita crucial à Ásia

 

Poucas visitas de um Presidente americano à Ásia são tão fulcrais como a que Donald Trump iniciou no Japão no fim-de-semana. Não é por acaso. Numa altura em que os EUA se voltam para dentro, a China mostrou nos últimos tempos que está pronta para ocupar o seu lugar na Ásia. Em termos económicos, mas também, e cada vez mais, militares. Isso ressaltou do discurso de Xi Jinping no recente congresso do Partido Comunista da China. Os aliados dos EUA na região estão, por isso, apreensivos sobre o papel futuro dos EUA na região. E não se sabe se Trump vai dissipar esses receios, sobretudo em países como o Japão, a Coreia do Sul e o Vietname. O papel futuro dos EUA na Ásia vai estar em cima da mesa. Até porque face à imprevisibilidade das acções de Trump, as suas palavras poderão mesmo ter um efeito oposto, e causar mais danos na imagem dos EUA.

 

Tudo mudou no último ano. Os EUA surgem hoje como os menos interessados numa política comercial global, com o princípio da "América primeiro", e a China tem vindo a surgir como o maior defensor da ordem económica liberal global. O proteccionismo americano e também a sua política isolacionista estão a causar tremores nos mais velhos aliados de Washington. Trump abandonou a posição americana pós-II Guerra Mundial, de líder da ordem liberal baseada no comércio livre, acordos internacionais e princípios democráticos. Trump está a ceder esse lugar de liderança global e a China presta-se a ocupá-lo. Em Janeiro, Xi Jinping apresentou-se na conferência de Davos como um defensor do comércio livre e um crítico do proteccionismo e do isolacionismo. O contrário do que defende Trump que, por essa altura, tomava posse como Presidente dos EUA. Depois há a sensação de que não se pode confiar em Trump quando se faz acordos. E isso inclui, claro, a protecção militar, outro dos vectores da presença dos EUA na Ásia.

 

China: à conquista da Oi

 

O grupo China Telecom poderá vir a controlar mais de 70% do capital social do grupo telecomunicações Oi através da realização de um investimento até 6,1 mil milhões de dólares, segundo a imprensa brasileira. Os representantes do grupo China Telecom afirmaram que o investimento a ser realizado está dependente de condições, nomeadamente a aprovação do plano de recuperação judicial da Oi (marcado para dia 10 de Novembro corrente). A Oi é o maior grupo de telecomunicações do Brasil.

 

China/Portugal: economia do mar

 

Portugal e a China acordaram um plano de acção centrado na colaboração na investigação e em projectos comerciais relacionados com a economia do mar, segundo a ministra portuguesa do Mar, Ana Paula Vitorino, à margem de uma missão empresarial à China. A ministra portuguesa apontou a possibilidade de investimentos nos portos de Sines, Leixões e Lisboa e "parcerias nas áreas da biotecnologia azul, aquacultura e indústria naval", referindo-se à "construção de plataformas para energias renováveis oceânicas ou aquacultura marítima". Ana Paula Vitorino reuniu-se em Pequim com o presidente do Banco de Desenvolvimento da China.

 

Turquia: Quer turismo

 

A Turquia quer explorar novos mercados da Ásia a nível do turismo. E tornar-se um dos três maiores destinos para os cidadãos desses países. Segundo o ministro turco do Turismo, a ideia é explorar os novos mercados da China, Índia, Coreia do Sul, Japão, Indonésia e Malásia, até porque, por exemplo, a Índia "tem uma classe média de 350 milhões de pessoas". A Turquia planeia tornar 2018 o seu "ano turístico". Segundo o ministro, "a economia mundial está a crescer a 2,5% cada ano enquanto o turismo cresce 3,1%. E nos próximos 10 anos deve crescer a 3,9% com base nestes números".

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