Opinião
O mais próximo da magia
Sigmund Freud, o fundador da psicanálise, escreveu-o, e muitos líderes sabem-no bem: a linguagem é o que o homem tem mais próximo da magia. A mente humana tende a moldar-se ao que se diz.
O mundo humano é construído, modelado e interpretado, isto é, vivido, na linguagem.
"Tentaste, mas falhaste!"… Quem ganha, quem progride, com comentários deste género? "Foi porque falhei muito que tive sucesso", comentou um dia Michael Jordan, um dos melhores basquetebolistas de sempre. Em vez de falhaste ou erraste pode dizer-se boa tentativa, bom esforço, foca-te em melhorar, etc. Os factos são os mesmos, mas dizer fracassou ou boa tentativa são realidades bem diferentes.
A estigmatização do erro é um quadro cultural que prejudica o desenvolvimento, que bloqueia e empobrece uma sociedade. Acentuar o que correu mal castiga a aprendizagem, desincentiva a melhoria e a inovação, prejudica a criação de riqueza e de emprego. Os falhanços e os erros, de facto, começam a desaparecer numa mudança de linguagem que leva à mudança de mentalidade e à mudança de realidade. Deixe-se de dizer mal feito, falhámos; e passe-se a dizer boa tentativa, oportunidade, aprender e fazer de novo.
As palavras que usamos não reflectem o mundo; criam-no. Há muito que a ciência e a filosofia chamaram a atenção para a não transparência da linguagem. Os limites do mundo são os limites da linguagem, dizia Ludwig Wittgenstein, o filósofo austríaco falecido em 1951. Para viver no mundo da internet, das SMS, e-mails, downloads, telemóveis, Facebook, etc., foram necessárias novas palavras. O que existe é aquilo que descrevo, a que consigo dar um nome. O não nomeado é verdadeiramente o limite da linguagem, por isso, o limite da realidade.
A inovação é hoje chave em praticamente todas as actividades profissionais. E num contexto de uma linguagem que estigmatize a inovação é muito difícil. Mas o mau ambiente, o pessimismo, a desmotivação, por estranho que pareça, acabam na mudança de linguagem. Os falhanços e os erros começam a acabar na mudança de linguagem. Deixemos de usar impossível, mal feito, problema, falhanço; e passemos a usar experiência, proposta, tentativa, iniciativa, melhoria, oportunidade, aprendizagem. Mudemos a linguagem e o mundo mudará connosco.
Professor na Universidade Católica Portuguesa