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25 de Maio de 2017 às 20:10

Lições de Mourinho

Mourinho voltou a ganhar uma competição europeia. Na liderança e no trabalho em equipa, o seu sucesso confirma a importância da dinâmica emocional e comportamental, do foco nos detalhes e na melhoria contínua, bem como da preparação exigente e do estudo dos adversários.

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Depois de tempos mais difíceis, José Mourinho voltou a ganhar uma final europeia, confirmando a relevância do trabalho determinado, do estudo dos adversários e da capacidade reagir. A história não está escrita e esta época Mourinho ganhou três troféus.

Ninguém nasce genial. É o trabalho, a ambição, a inovação e a capacidade de estudar o adversário e compreender os pormenores que faz o caminho do sucesso. Mourinho é um dos casos de estudo mais flagrantes da actualidade nas áreas da liderança e do trabalho em equipa. A ideia de que se trata de um profissional genial, diferente do comum dos mortais, não ajuda a aprender como caso.

Durante alguns anos, com a preocupação de teorizar práticas relevantes para as profissões em geral, estudámos a performance de Mourinho no que respeitava à dinâmica de liderança e do trabalho em equipa. Entre os anos do Porto e os do Real Madrid, Mourinho levou a cabo uma liderança geralmente categorizada como transformacional. No entanto, se por um lado o seu trabalho confirmava aspectos chave que a investigação académica tem vindo a identificar nas lideranças de sucesso, por outro lado, o caso ilustrava pertinentemente o valor da inovação.

 

No primeiro aspecto, por um lado, estão os comportamentos sistematicamente focados no relacionamento, na motivação, no laço emocional que leva cada profissional a dar o melhor; por outro lado, está o foco na melhoria contínua, individual e colectivamente, nos treinos e nos jogos. Um traço importante da liderança de Mourinho é o foco nos detalhes, a melhoria contínua e o estudo exaustivo e inteligente do adversário. Trata-se de uma forma de trabalhar focada nas tarefas e nos resultados, em que existe uma preocupação constante em aprender e melhorar.

 

No segundo aspecto - o sucesso de Mourinho ilustra o valor da inovação - está a perspectiva da globalidade. Trata-se de um modo de trabalhar que altera entendimentos mais tradicionais. O profissional deixa de ser visto na sua dimensão meramente técnica. O envolvimento, os sentimentos, a personalidade, as expectativas, os laços no seio da equipa, o equilíbrio entre os profissionais, os afectos, são aspectos a ponderar, integrando-os com o desempenho colectivo e com as ambições individuais. A liderança pela globalidade desenvolve um contexto de exigência, onde os pormenores são sistematicamente cuidados, facilitando e exigindo a melhor performance de cada um. Um aspecto hoje menos presente neste tipo de trabalho é a relevância da interacção de Mourinho com os media, visando beneficiar a performance da sua equipa e complicar a das equipas adversárias.

Na liderança e no trabalho em equipa não há soluções definitivas. As práticas de sucesso são estudadas e seguidas por outros, surgem novos contextos e novos competidores. Todos podemos ter alturas mais favoráveis. Nem Mourinho nem ninguém ganham sempre. Mas no centro dos desempenhos extraordinários, bem acima da média, está o que todos nós podemos fazer quando estudados esses mesmos casos: aprender e melhorar.

 

Professor na Universidade Católica Portuguesa

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