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[775.] Jeep

Um comprador de um Jeep que trabalhe 240 dias por ano e tenha 125 dias de férias, feriados e fins-de-semana, lembrar-se-á mais dos dias de lazer do que dos dias de trabalho. É o que está neste anúncio.

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Chamamos jipe aos 4x4, mas a marca avisa em slogan que "there's only one" Jeep. O anúncio deveria trazer a tradução do slogan, mas, pelos vistos, já ninguém liga nenhuma a isso, nomeadamente as instituições do Estado que têm a seu cargo a monitorização do cumprimento das leis e regulamentos da publicidade.

 

O mesmo sucede com o slogan específico da campanha da marca, que anuncia "Jeep wild days". A aventura prometida enquadra-se na propaganda habitual da marca: "Pó, lama, o vento a bater na sua cara" em percursos "dentro e fora de estrada". Num anúncio anterior, essa mensagem de sujidade como parte da excitação de andar fora da estrada, a destruir a natureza, sugeria-se pelo slogan "está a chegar o Inverno. Finalmente" - era um pouco infantil essa ideia de que a alegria secundária de sujar o carro resulta de haver lama e de que para se aventurar fora do asfalto é preciso que chegue o Inverno.

 

Esta campanha dos "dias selvagens de Jeep" (presumindo-se que a selvajaria é andar a pisar plantas e animaizinhos fora do asfalto) é ilustrada por uma sobreposição de imagens muito eficaz na comunicação. A fotografia do fundo mostra uma cidade com arranha-céus à beira da água. A parte inferior, com a superfície hídrica, serviu para inscrever os dizeres verbais já referidos. A meio da imagem, com a parte inferior precisamente sobreposta sobre a beira-água da cidade, sobrepôs-se uma fotografia de altíssimas montanhas, com uma tonalidade acastanhada acentuando o contraste. Há, entretanto, a semelhança dos picos das montanhas com os arranha-céus da cidade.

 

Assim, apesar do enorme contraste entre uma paisagem e outra, há uma continuidade, acentuada, aliás, pela sobreposição. Quer dizer, a cidade e a montanha completam-se visualmente. Qual tem a primazia? A montanha, pois está por cima da cidade. Ela representa a excitação "selvagem" de conduzir o veículo, ela representa o tempo de lazer. A cidade, atrás, são os cinco dias de trabalho. Por cima dela, ao centro da composição (e no centro da vida do observador), mais valorizados, estão os dias do fim-de-semana e os dias de férias.

 

Bem conseguido graficamente, o anúncio repete pela enésima vez uma ideia, ou até um mito, criado pela publicidade de carros com tracção 4x4. Quase todos os anúncios deste tipo de veículos mostram, descrevem e acentuam tratar-se de veículos que servem bem na cidade e no campo, ou, noutras versões, no trabalho e no lazer. Na cidade, porque ela é uma "selva" mais "selvagem" que o campo, sugere-se que, havendo um toque nas filas com o 4x4, o "outro" fica mais estragado do que o "nosso". No campo, claro, servem bem para se ter o gozo de os sujar com lama. Houve mesmo um anúncio de outra marca que apresentou um seu modelo 4x4 completamente coberto de lama. Não interessava mostrar o carro, interessava mostrar a sua função fora de estrada. Deste modo, também os "dias selvagens" de Jeep incluem percursos "dentro e fora de estrada", no asfalto e fora dele, nos dias de semana (trabalho) e nos fins-de-semana (lazer). Para quem trabalha de segunda a sexta, 240 dias por ano, os "dias selvagens" para teste dos três novos 4x4 Jeep (dias que, no anúncio português, era apenas o dia 13 de Outubro) foram, assim, uma proposta para um veículo que estará disponível nesses 240 dias para a cidade e os restantes 125 para descer aos campos enlameados e subir aos picos montanhosos da imagem.

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