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[758.] Expresso, Placard, SNS 24

Estranha, mesmo, é a campanha do Serviço Nacional de Saúde que usa a Selecção Nacional de Futebol para promover o seu centro de contacto SNS 24.

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Quem é a pessoa mais relevante num livro: o autor do livro ou o autor do prefácio? Errado! O leitor respondeu o autor do livro porque não conhece o imperativo categórico da filosofia "Expresso": qualquer "personalidade do Expresso" é mais importante do que assuntos ou pessoas sobre quem ela escreva. É ver o anúncio a uma Biblioteca do semanário. O texto do anúncio consegue o feito extraordinário de nem sequer mencionar os autores dos livros vendidos com o jornal. Em contrapartida, põe a fotografia de cada um dos seis jornalistas ou comentadores do Expresso que os prefaciam e imprime os seus nomes, com direito a bold.

 

Mudando de tema. O serviço Placard de apostas na Internet tem um anúncio com vários tipos de pessoas a fazerem apostas, felizes. Mais felizes não poderiam estar os operários da construção civil que o anunciante escolheu para a publicidade de imprensa. "Toda a hora é boa para apostar", diz o título do anúncio e, num andaime, os três homens das obras quase que caem de grande altura, tal a euforia das apostas, com o telemóvel nas mãos. Noutra época, os homens das obras andariam de punho erguido nas ruas, agora andam de braço erguido, como o telemóvel nas mãos, apostando dinheiro que vai, na esmagadoríssima maioria, pelo cano abaixo. Mas, lá está, os operários estão felizes. Não só eles. Também o senhor engenheiro, pois o ponto de vista da imagem, a partir dum andar da obra, mostra lá dentro um computador sintonizado no site de apostas. Placard tem um slogan com uma vírgula a mais: "Aqui, jogas em casa." A casa é metafórica, pois os operários estão nas obras. A ideia é: jogas na tua casa informática - o teu telemóvel -, a extensão do teu braço e do teu ser; a tua casa é onde estás com o teu telemóvel, que é mais casa ainda por apostares naquilo de que gostas, a bola. Diz a canção no vídeo da publicidade Placard: "Abres a aplicação no trabalho ou na estação", quer dizer, és empregado e andas de transportes colectivos. A vida é uma seca, não é? Ganhas pouco, não é? Então joga, pode ser que deixes essa vida. As hipóteses são mínimas, mas, entretanto, sonhaste com amanhãs que cantam, já não é mau. Apostas, desporto e sonho: querias ser mais alienado do que isso? Claro que não, chega e sobra. Gasta lá o pouco que ganhas a "toda a hora" e exulta, feliz.

 

Terceiro assunto. A publicidade em torno do Mundial da FIFA está muito fraquinha. Há repetições como "A fome de vencer", dos supermercados Continente. Estranha, mesmo, é a campanha do Serviço Nacional de Saúde que usa a Selecção Nacional de Futebol para promover o seu centro de contacto SNS 24. O vídeo começa mostrando jovens em grande plano: sofrem vendo jogos da Selecção. Ele é rouquidão, febre, suores. Até pode ser que haja palpitações. Ah!, não é da bola, é um AVC! Então vá, ligue para o SNS 24. A relação entre o AVCzinho e o Mundial de Futebol é tão forçada que não será fácil alguém que veja este anúncio estabelecer a ligação entre ver um jogo da Selecção e ter uma apoplexia. No anúncio de imprensa, a imagem não mostra ninguém à beira de uma ataque, mas alguns jogadores da Selecção festejando um golo.

 

O título do anúncio é "Febre da Selecção". Esta febre metafórica é para ser tomada à letra, mas o anúncio, no texto, insiste na metáfora futebolística: "Já se sente a temperatura a subir. Vêm aí a rouquidão, os calafrios e os suores frios. A dificuldade em dormir, a pulsação descontrolada e as palpitações. A febre está quase a começar." Esta deve ser a primeira campanha de prevenção de AVCs e coisas do género que dá vontade de morrer.

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