Opinião
Você já está no Clubhouse?
No Clubhouse não há espaço para imagens e escrita. Lá é tudo em áudio e ao vivo. Há temas de interesse e conversas em áudio ao vivo. Sim, nada é gravado. O que se diz no Clubhouse não fica nem no Clubhouse.
1. Você ainda não sabe o que é, mas vai querer lá estar. Clubhouse é o nome da rede social da vez, daquela que está a entrar na moda.
Em tempos em que não há restaurantes, bares e discos a abrir (muito pelo contrário), as pessoas precisam de referências que definam as suas condições de status. O Clubhouse responde a isto.
Diferente do Facebook e do Twitter, não basta querer para se tornar membro. Só se entra no Clubhouse por convite. Ou seja, como nos tempos áureos do Frágil ou do Lux, é preciso ter um amigo lá dentro para vir até à porta e convencer o porteiro de que, afinal, você não se veste tão mal assim.
Se priva com o Elon Musk com a Oprah ou com o Drake, algumas das personalidades cotidianas do Clubhouse, é só pedir um convite. Se não, não desespere. O crescimento da rede está a ser exponencial no mundo e em particular no Brasil. Em breve, aquele seu primo que trabalha em São Paulo ou aquele tio que reformou-se e foi viver para a praia de Pipa vão estar no Clubhouse.
Não espere encontrar lá fotos de gatinhos ou links para notícias falsas. No Clubhouse não há espaço para imagens e escrita. Lá é tudo em áudio e ao vivo. Há temas de interesse (qualquer um pode abrir uma sala sobre um tópico ou entrar numa onde está a se falar sobre um assunto do seu agrado) e conversas em áudio ao vivo. Sim, nada é gravado. O que se diz no Clubhouse não fica nem no Clubhouse.
Em poucos meses o valor de mercado do site saltou de 100 milhões para 1 mil milhões de dólares. E tudo indica que é só o começo.
Sei não. Em tempos de total cacofonia, onde todos querem falar e ninguém quer ouvir, fico a questionar-me se teria interesse em passar os meus dias num parlatório virtual. Pode ser que mude de opinião, mas até agora a coisa toda ainda soa como uma espécie de visão, digo, audição do inferno.
2. Eu sei que em Portugal o Big Brother tornou-se num formato algo anacrónico, estigmatizado do ponto de vista social e que é ignorado por toda a sociedade que se diz pensante. Como não vejo desde a primeira edição, não tenho opinião se o ostracismo a que está relegado pelos intelectuais é justo ou não. Apenas anoto que faz falta objetos de cultura de massa que possam ser vistos e debatidos por todos ao mesmo tempo.
Após vinte anos de produção ininterrupta, o Big Brother Brasil continua a fazer parar aquele país e a propor discussões interessantes, participadas com paixão por donas de casa, sociólogos, jornalistas, políticos e adolescentes fãs da Anitta.
A edição de 2021 começou há três semanas e está a questionar a cultura de cancelamento, o papel das militâncias sociais e o fascismo de sinal trocado (quando gente de esquerda tem posturas totalitárias, impedindo de forma bruta qualquer dissenso).
Até mesmo as questões raciais fortes, algo que o Brasil tem muita dificuldade em discutir, foram escarrapachadas no pequeno ecrã.
Como uma cebola que não pára de revelar camadas, o programa mostrou dois homens negros (um deles assumindo pela primeira vez a sua bissexualidade) a darem um beijo longo e profundo, ao vivo.
A conservadora sociedade brasileira cá fora, apesar de chocada, aprovou o gesto de carinho. Porém, os participantes de esquerda de dentro da casa não. Tanto fizeram que um dos beijoqueiros acabou por abandonar a edição. Virou uma estrela instantânea. Um jovem negro retinto, rapper, pobre e bissexual é o novo namoradinho do Brasil. Afinal, há também coisas boas a acontecer em 2021.