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21 de Agosto de 2017 às 19:51

"Meu nome é Zé Pequeno"

"Só os mortos conhecem o fim da Guerra", diz uma frase atribuída ao general norte-americano Douglas MacArthur.

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Podemos então afirmar que o começo da guerra é para os vivos (ou para os muito vivos, se pensarmos na indústria de armamentos e em outros negócios que prosperam em tempos bélicos).

 

Todas as guerras são também travadas nos corações e mentes das pessoas. Guerras nada mais são do que narrativas. Tanto que é preciso que uma guerra acabe para sabermos qual dos lados era o "bom". Ao menos na opinião dos vencedores, os derrotados são sempre os vilões.

 

Poderia aproveitar o tema para falar da Coreia do Norte e dos EUA do Mr. Trump. Mas não, há outro exemplo mais interessante.

 

Na semana passada o jornal carioca Extra (um diário popular do grupo Globo) decidiu abrir uma nova seção chamada, justamente, "Guerra no Rio".

 

Explica o jornal: "Pergunte às viúvas dos (quase) 100 policiais se estamos numa guerra, pergunte para a mãe daquela criança assassinada enquanto assistia à aula se nós estamos em guerra". A violência no estado extrapolou o padrão da normalidade de uma seção de polícia".

 

Essa decisão editoral está longe de ser pacífica (se me permitem o trocadilho). Do ponto de vista político desagradou partes da esquerda e da direita.

 

A direita alega que tratar a violência no Rio de Janeiro como guerra é o mesmo que transformar bandidos em soldados. A esquerda reclama que um estado de guerra poderia justificar o bombardeamento das favelas, medidas de exceção e relaxamento em questões de direitos humanos.

 

Acho incrível a ideia da editoria e a consequente discussão que ela traz. Veja bem, não estamos a falar de fazer investimentos, de modificar o formato do jornal, de uma novidade tecnológica qualquer. Trata-se apenas de jornalistas a quererem ser relevantes.

 

Claro que o Extra ao assumir que há uma guerra civil no Rio obriga a que governantes tomem determinadas decisões. Claro que para a população em geral é como se alguém dissesse que o rei vai nu.

 

Pois o rei vai nu. Mais ou menos como faz o personagem Dadinho no filme "Cidade de Deus", ao comunicar ao mundo que mudou de nome para Zé Pequeno, a rubrica no alto da página da publicação a dizer Guerra é um grito parado no ar, um soco na cara da sociedade.

 

Só me resta lembrar mais duas frases do general MacArthur, que parecem que foram cunhadas para comentar esse caso. A primeira diz que "Numa guerra você será lembrado pelas regras que quebrar". A outra avisa: "Não estamos a recuar. Estamos apenas a avançar noutra direção".

 

Às vezes, os jornais e os jornalistas precisam quebrar certos parâmetros para avançar para bem longe do anacronismo.

 

Ou como diria o meu Tio Olavo: "A maneira mais rápida de acabar uma guerra é perdê-la".

 

Publicitário e Storyteller

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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