Opinião
Há um Indiana Jones dentro de si
Sou só eu ou você também acha penoso assistir às preleções dos treinadores de futebol depois dos empates e derrotas?
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Falo preleções pois apesar de se apresentarem travestidas de entrevistas nada mais são do que recados para dentro, comentários dirigidos ao coração do balneário.
Trata-se de uma tarefa complicada. Se criticarem demasiado a equipa, podem ser chamados de insensíveis. Se passarem a mão na cabeça, serão classificados de bananas.
Ajudaria se tivessem melhor preparação como "storytellers". Alguns exemplos e metáforas poderiam ajudar na tarefa.
Aqui há todo um paradoxo. Os treinadores de futebol raramente passam por algum tipo de preparação enquanto comunicadores. E são os líderes mais expostos aos media.
Lembrei disso ao receber um convite para palestrar sobre como ser líder. Ruborizei. Pode não parecer, mas há certas coisas que é mais normal ouvir do que falar. Beleza, por exemplo.
Nunca me convidaram para explicar os fundamentos de como ser sexy. Teorizo as razões. Mas como ser líder, de vez em quando alguém lembra de me perguntar.
"Liderança" é uma daquelas palavras bonitas do dicionário. "Libélula" é outra. Também gosto de "falafel", mas implico com "farófia" e com "falácia". Sim, sou um poço de contradições.
"Liderança" rima com "esperança". Ao menos em português dá para fazer um poema a ligar os temas. O que pode dar jeito quando não se é bom líder, mas um excelente poeta medíocre (sim, até para exercer a mediocridade é preciso talento e dedicação).
Não é sobre isto que irei divagar no evento (aliás, para os interessados, será o 1.º Leadership Summit Lisbon; informações no www.leadershipsummitlisbon.com ). Vou falar sobre a importância de os líderes serem também bons "storytellers".
Leio num artigo que uma pesquisa global feita pela consultoria Booz & Company descobriu que 84% dos executivos acreditam que a cultura empresarial é crítica para o sucesso dos seus negócios, mas que somente 35% consideram que a cultura é eficazmente conduzida.
As decisões da liderança que implicam em mudanças são rejeitadas por resistência dos empregados; ceticismo devido a fracassos anteriores; falta de envolvimento das equipas; falta de compreensão dos motivos e razões da mudança.
Ou seja, falta de convencimento.
Dar ordens é fácil, convencer é difícil. Sei disso por experiência própria. Não é simples transformar uma tarefa numa missão. Não é óbvio atuar como um samurai e não como um empregado.
Boa parte do conceito de liderar pelo exemplo vem de transformar-se numa personagem de uma história para os seus liderados. Se quer uma narrativa em que a palavra "honestidade" tenha prevalência, terá de ser honesto (e, como a mulher de César, parecer honesto).
Se a sua narrativa tem que ver com a ganância, era bom que você fosse o próprio lobo de Wall Street.
Ou seja, se quer ser um bom líder, escolha uma narrativa e uma personagem para si próprio. Pode ser o Han Solo, o Indiana Jones ou Tony Stark. Só não pode ser o Homem Invisível.
Ou como diria o meu Tio Olavo: "Um líder é o que vende esperança, mas depois entrega resultados."
Publicitário e Storyteller
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico