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14 de Novembro de 2018 às 19:56

A morte do contador de histórias

Na série "Mad Men" fomos apresentados a uma Nova Iorque pós-guerra onde os publicitários eram estilosos, "bon vivants" e ditavam modas.

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Quem vê a série pensa que a Madison Avenue, onde estavam localizadas as maiores agências, dominava a cultura pop da época. Não era bem assim.

 

Nessa mesma Nova Iorque, vivia-se uma das eras áureas do Brill Building, edifício que centralizava compositores e músicos dedicados a criar os grandes hits que ecoam até hoje nos nossos headphones.

 

Também já andava por ali Stan Lee. A Marvel Comics ainda não era assim chamada, só em 1961 a Timely Comics foi rebatizada assumindo a frase "A Marvel magazine", que aparecia na capa das suas revistas, como o nome da empresa. Foi mais ou menos por aí que a banda desenhada (quadrinhos, no Brasil) se tornou uma espécie de fenómeno parecido com os videogames de hoje.

 

Mas não se tratava de uma indústria milionária. O combustível que fazia rodar os motores da BD era composto de arte, álcool e doenças psíquicas várias. O exército de Brancaleone que por ali andava a escrever e desenhar revistinhas não poderia imaginar os blockbusters que Hollywood viria um dia a produzir.

 

O livro "Marvel: The Untold Story", de Sean Howe, reporta isso com humor e profundidade. Na obra encontramos um Lee cercado de génios criativos que se julgam (ou eram) muito melhores do que ele. Porém, essa que é essa, ninguém alcançou a categoria de lenda viva (agora mais lenda e menos vivo, é certo) como Stan.

 

Na última segunda-feira, quando noticiada a sua passagem, as redes sociais do planeta ficaram pejadas de homenagens a Stan. Merecidas. Lee soube construir com apuro o seu próprio personagem. Soube também parar de criar quando já tinha montado uma verdadeira mitologia, só comparável em extensão e visibilidade com a grega ou a romana.

 

Se Disney se tornou o rosto do entretenimento familiar, Stan sempre apelou ao adolescente que existe dentro de nós. Somos Thor, somos Homem de Ferro. Somos todos um pouco Hulk, temos os nossos momentos de Surfista Prateado. Poderia passar o dia a enumerar personagens. Mas nem era preciso, bastava dizer só uma: Homem-Aranha.

 

Curiosa criatura. Apesar de levar "Homem" no nome, o Aranha não passa de um jovem perdido, órfão, pobre, criado por uma tia velhinha. Peter Parker sente todas as dores que a puberdade propicia e sempre se dá mal. A sua graça reside justamente no seu perene sofrimento. Até a sua canção-tema, no Brasil, costuma ser cantada numa elucidante paródia: "Homem-Aranha, Homem-Aranha, nunca bate, sempre apanha."

 

Stan Lee fará falta. Morreu aos 95, mas com uma vitalidade de fazer inveja. Parte da minha infância e juventude se foi com ele. Tenho pena. Gostaria de ter podido comemorar o seu centenário.

 

"Grandes poderes trazem grandes responsabilidades", disse uma vez o tio do Spiderman. Que por acaso, se chamava Ben, mas poderia se chamar Olavo. Fica, pois, essa frase dele, o excelsior Stan Lee, para encerrar esse texto.   

 

Publicitário e Storyteller

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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