Opinião
A geração que não quer se matar de trabalhar
Ninguém se deve matar de trabalhar. Mas esforço e determinação ainda são adjetivos positivos em qualquer empresa do planeta. Embora sejam palavras cada vez mais "non gratas" em TEDx e outras plataformas formativas.
Aposto que já aconteceu consigo. Um dia, aparece o link para um determinado texto ou artigo no timeline do seu Facebook e, sem nenhum motivo aparente, a coisa continua a surgir vezes seguidas, dias seguidos, até que finalmente clica nela e lê.
No meu caso, tratou-se de uma crónica que falava do pessoal da minha idade e de nosso doentio hábito de trabalhar demais. Não lembro do título direito, acho que era algo como "A geração que se matou de trabalhar". E elencava uma série de consequências dos nossos vícios: casamentos disfuncionais, filhos carentes, corpos maltratados, almas perdidas para a ganância e o consumismo.
O texto era um libelo em prol da qualidade de vida em detrimento da carreira e de ganhos monetários. Tudo muito bonito, muito fofo, cheio de boas intenções, escrito para aquecer os corações dos millennials.
Confesso que não consegui chegar até ao fim. Há certa literatura de autoajuda que mais atrapalha do que beneficia.
Não acho que trabalhar demasiado seja a melhor coisa do mundo. Por outro lado, também não defendo a preguiça.
Ninguém se deve matar de trabalhar. Mas esforço e determinação ainda são conceitos positivos em qualquer empresa do planeta. Embora sejam palavras cada vez mais "non gratas" em TEDx e outras plataformas formativas.
Tornou-se feio dizer para as pessoas que nem todas são geniais nem serão extremamente bem-sucedidas nos seus altos planos, muito menos tratando eles, os planos, de forma secundária, como se Deus não tivesse outros afazeres que não cuidar de todos com igual esmero. Deus é pai, é verdade, mas não é "o" seu pai.
Esforço-me para adaptar-me a este novo mundo em que numa competição todos merecem medalhas de participação. Onde todos querem estar no palco e ninguém na plateia. Um mundo de líderes emasculados, temerosos em fazer exigências, onde dizer "não", mesmo quando necessário, pode ser interpretado como falta de educação.
Veja bem, aceito com naturalidade a constatação de que a Geração X cometia excessos. Sim, claro, uma parte do que fizemos foi a mais, foi demais, sem nenhuma necessidade, faltou quem nos desse limites.
Mas não caio na armadilha de achar que o inverso também não é um exagero. E acredito que é parte da minha função enquanto líder estabelecer determinados padrões, dar o exemplo e trabalhar para que as minhas equipas estejam em sintonia com os planos da empresa. Às vezes é fácil, às vezes é difícil. Como é a vida.
Hoje em dia é complicado dizer isso em voz alta. É mais fácil dissimular as coisas, posar de bonzinho. Ou escrever bobagens sem utilidade no mundo real como as daquele texto que me motivou a escrever este.
Ou como diria o meu Tio Olavo, parafraseando Oscar Wilde: "Nunca fui jovem o suficiente a ponto de saber tudo."
Publicitário e Storyteller
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico