Opinião
"Será que vamos ver o helicóptero Mario levantar voo?"
O dia 10 de março ficou marcado por mais uma reunião do Banco Central Europeu (BCE) e pelo anúncio de um novo programa de estímulos à economia europeia feito por Mario Draghi.
Como é sabido por todos, a situação económica europeia continua a ser bastante preocupante, nomeadamente pelos baixos níveis de inflação, pelas baixas taxas de crescimento da economia e os altos níveis de endividamento de alguns países que pertencem à União Monetária.
Quando, há um ano atrás, em março de 2015, Mario Draghi anunciou o programa de compra de ativos (o tão falado "quantitative easing") do BCE, muitos pensaram que este iria influenciar positivamente a inflação da união, assim como fazer com que as taxas de crescimento das economias europeias finalmente recuperassem depois da recessão de 2011. Muito resumidamente, este programa insere-se num conjunto de políticas de cariz monetário em que o BCE compra obrigações do tesouro dos países da Zona Euro, com o objetivo de baixar as taxas de juro e aumentar a liquidez nos mercados financeiros europeus. Na reunião de há duas semanas, o BCE anunciou que o programa se irá manter pelo menos até março de 2017 e que vai aumentar o investimento mensal em compras de dívida pública de 60 para 80 mil milhões de euros. Este novo aumento está a ser visto como o último esforço da administração de Mario Draghi para que o programa de compra de ativos tenha os efeitos desejados, já que, até ao momento, os resultados têm estado claramente abaixo das expectativas.
Nos últimos tempos, muito devido à ineficiência das medidas postas em prática pelo BCE, medidas extremas como o "helicopter money" têm sido discutidas por vários economistas um pouco por todo o mundo. O conceito foi introduzido por Milton Friedman em 1969, quando disse que uma das melhores formas que um Banco Central tinha de fomentar uma economia com taxas de inflação baixas e taxas de crescimento abaixo do potencial seria fazer transferências diretas de dinheiro para as pessoas, em vez de o usar na compra de ativos, usando para isso a metáfora de passar um helicóptero com o objetivo de fazer cair dinheiro do céu. Teoricamente, as pessoas teriam tendência para achar que este evento não se iria repetir e, por isso, a probabilidade de gastarem esse dinheiro, fomentando a economia e ajudando a taxa de inflação a subir novamente para o target definido pelo BCE, seria bastante alta. O conceito foi também usado por Ben Bernanke, ex-presidente da Reserva Federal Americana, quando sugeriu a promoção de uma série de benefícios fiscais que não contariam para o défice público e cujo financiamento seria feito através da criação de moeda, situação que deu origem à alcunha de "helicopter Ben". Porém, caso uma política deste tipo viesse a ser utilizada, teria de ter um carácter permanente, situação que garantiria que as pessoas iriam de facto investir esse dinheiro na economia, pois essa é a única forma de fazer a taxa de inflação subir novamente.
Com suspeitas de um novo período de recessão no futuro, uma política destas poderá perder alguma força visto que, muito possivelmente, a maioria das pessoas iria usar este dinheiro para aumentar as suas poupanças ou para fazer face a algumas dívidas passadas. Quando confrontado com a possibilidade de usar uma política deste tipo para fomentar o crescimento da economia europeia, Mario Draghi admitiu que é um conceito interessante, mas cuja aplicação seria bastante complexa tanto a nível legal como técnico.
Resta-nos, agora, aguardar e perceber se os novos estímulos introduzidos pelo BCE, nomeadamente o corte na taxa de juro diretora e dos depósitos, assim como o novo programa de operações de refinanciamento a longo-prazo, que está condicionado pela concessão de crédito às empresas, vão finalmente surtir efeito. Apesar de improvável e extremamente controverso, sugiro que mantenhamos a atenção porque podemos ser surpreendidos pelo voo do "helicóptero Mario".
Membro do Nova Investment Club
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