No passado domingo, a CMTV divulgou imagens e áudio dos interrogatórios do ex-ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, e do ex-director do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Jarmela Palos (nome quase ao nível de um Chocolate Contradanças), ambos acusados no processo dos "Vistos Gold".

Magnífico! Portugal continua a desbravar caminho na violação do segredo de justiça. Somos piores do que os indianos com as senhoras. Tivemos transcrições. Depois, divulgação de gravações. Agora, já temos o registo audiovisual de interrogatórios. Tragam pipocas! A violação do segredo de justiça está a um passo do 3D. Atingimos o "gangbang" da Justiça. Nem a Cicciolina nos seu velhos tempos.

Quando aparecem transcrições do que foi dito em interrogatórios, etc, uma pessoa ainda pensa que pode ser mentira; quem conta um conto. Quando ouvimos gravações, ainda podemos pensar: "grande Luís Franco Bastos, que faz tão bem a voz do Pinto da Costa". Com imagens, é o fim da dúvida. Sabemos que realmente aquilo aconteceu, o que é raríssimo no CM. Imaginem se tem havido busca de orifícios. Qual é o limite?

Também há que reconhecer que, desde as filmagens de Sócrates a ser levado no aeroporto, a indústria audiovisual da violação do segredo de justiça progrediu mais que grande parte do cinema português.

Custa-me muito escrever sobre este tema porque, para mim, nada pior que pôr-me do lado do Miguel Macedo. Só por isso, esta justiça, e jornalismo, já mereciam ser salgados. Mas começa a ser assustador porque arriscamo-nos a que, dado que já há imagens, dispensem os juízes e siga para justiça popular.

Bem sei que há os que dizem - "lamento, mas fico mais preocupado, e chocado, com a corrupção do que com imagens obtidas ilegalmente do inquérito". Como se a obtenção destas imagens não fosse também corrupção.

Eu fico muito preocupado com quem acha que ver a justiça a fazer batota é menos grave que desmascarar batoteiros. É como se aceitássemos que o árbitro, de um jogo de futebol, pode marcar dois penáltis inexistentes porque a equipa roubada merecia perder. E, mais do que preocupado, fico curioso. Porque, se já percebi quase todo o esquema do Miguel Macedo, custa mais perceber como é que a CMTV tem imagens do Ministério Público a inquirir o Senhor Macedo e companhia.

Deduzo que foram jornalistas que se fizeram assistentes e tiveram acesso a gravações, apenas para consulta. Depois fizeram como fazem os ex-namorados, mal resolvidos, que - por dor de corno ou falta de medula - pegam nas fotos e filmes das ex, em tempos de confiança, e toca de pôr no Facebook. Uns foram motivados porque perderam a mama, outros porque não a querem perder.

Perante esta divulgação, tenho pena da nova ministra da Justiça: ainda agora chegou e já tem aqui um belo berbicacho. Espero que não se meta no álcool.

Entretanto, e passadas uma belas 48 horas, a PGR diz que vai abrir inquérito após divulgação de registo audiovisual de interrogatórios. Excelente. Ficamos à espera de imagens do inquérito.