Opinião
Radicalização do vinho e o paradoxo do crescimento económico
O setor é constituído por mais de 200.000 postos de trabalho, e estende-se às indústrias de cortiça, caixas, vidro, tanoaria, produtos agrícolas, equipamentos de produção, maquinaria, enoturismo, turismo e hotelaria, incluindo uma vasta população que vive do vinho em Portugal.
Osetor vitivinícola é um dos principais motores da economia e dos que mais incorporam matéria-prima nacional. Das garrafas de vidro às rolhas de cortiça, passando pelo cartão utilizado para a embalagem, pelos rótulos das garrafas e pelas paletes, pelo material para o ponto de venda e os copos, tudo é produzido em Portugal.
Infelizmente, o setor é também constantemente alvo de escrutínio por parte de quem pretende diabolizar um produto de inegável importância social, económica e cultural.
Não raras vezes, assistimos a uma tentativa de equiparar os malefícios do álcool ao do tabaco e isso é profundamente irresponsável. Alimentos e bebidas são essenciais para sustentar a vida, enquanto o tabaco, mesmo em doses baixas, é sempre prejudicial à saúde. Mais grave ainda é ignorar que muitos dos estudos anti-álcool parecem negligenciar outros fatores de risco e banalizar a diferença fundamental que existe entre consumo moderado e exagerado.
Infelizmente, muitos radicalistas do vinho ignoram que a grande maioria dos portugueses tem uma relação com o vinho que se enquadra num padrão de consumo moderado. Por isso, somente aqueles que têm pontos de vista mais extremistas acreditam que negar ao nosso setor um lugar à mesa das negociações ajudaria a melhorar o estado de saúde global. Nada há de mais profundamente errado!
A tentativa de reduzir o consumo de álcool, e não o consumo problemático, vai contra a cultura mediterrânica e ameaça um setor económico constituído por mais de 190.000 hectares de vinha, e 17.000 produtores. Grande parte das vinhas em Portugal encontram-se em geografias que pouco mais podem cultivar e o abandono delas resultaria numa despovoação do interior com consequências devastadoras.
Para além dos viticultores, o setor é constituído por mais de 200.000 postos de trabalho, e estende-se às indústrias de cortiça, caixas, vidro, tanoaria, produtos agrícolas, equipamentos de produção, maquinaria, enoturismo, turismo e hotelaria, incluindo uma vasta população que vive do vinho em Portugal.
As empresas pagam IRC e as pessoas IRS, taxas, IVA e segurança social criando um ecossistema económico e social que parece ser ameaçado por medidas mais adequadas aos países do Norte da Europa com uma cultura e relação com as bebidas alcoólicas bastante mais problemáticos.
Mais grave é que grande parte destas medidas já foram testadas em alguns países sem resultados positivos. Mais: estas medidas ignoram absolutamente o valor da educação e o reforço da cultura mediterrânica, que por natureza é moderada e equilibrada.
Na ACIBEV, entendemos que a única forma de combater o radicalismo associado ao consumo de bebidas alcoólicas, que invariavelmente confunde o consumo exagerado com o moderado, é educar as pessoas e mostrar-lhes que o resultado para a sua saúde dependerá sempre das suas próprias escolhas.
É preciso sensibilizar e educar, e é por isso que defendemos que a responsabilidade pessoal deve prevalecer acima de qualquer lei.
Porque impor e restringir tem-se provado uma fórmula errada com consequências nefastas para qualquer setor. O do vinho não será exceção!