Opinião
Os motores de busca são déspotas iluminados!
Por cada dia que passa a Internet torna-se cada vez mais importante para o desenvolvimento do potencial da economia digital.
Lisboa, 29 de Novembro de 2012 – Por cada dia que passa a Internet torna-se cada vez mais importante para o desenvolvimento do potencial da economia digital. É fundamental que cada vez mais as empresas tenham a consciência destas oportunidades, do que elas podem representar para o desenvolvimento das suas atividades, e de qual o impacto que podem assumir no crescimento dos seus volumes de negócio e da economia do nosso país. Esta consciência é crucial para que Portugal dê o passo seguinte no sentido da consolidação duma economia digital sustentada à escala nacional, aumentando substancialmente o atual número de 17.097 websites* (num universo total de 307.091 sites profissionais**) que se dedicam atualmente ao comércio online.
A criação de uma regulamentação clara e objetiva, quer a nível europeu, quer a nível nacional, que incida sobre as atividades comerciais online, é decisiva para que a economia digital possa crescer de forma saudável na Europa. Desde logo porque os motores de busca, que atualmente são verdadeiros déspotas, são obstáculos à objetividade e à democracia, e constituem uma barreira para todos aqueles que procuram informação online, bem como para as empresas que desejem melhorar a sua visibilidade e aumentar as suas receitas no online.
Eli Pariser deixou claro no seu « The Filter Bubble » que os motores de busca para fornecerem informações aos internautas que as procuram utilizam algoritmos baseados na localização, no perfil e no comportamento do navegador e no seu histórico de pesquisas. É verdade que desta forma, os internautas têm ao seu dispor a possibilidade de beneficiar do acesso a informação totalmente personalizada, mas isso também significa que a visão geral da realidade que constroem a partir da mesma não é assim tão neutra, e baseia-se numa versão altamente subjetiva da realidade que lhes foi fornecida.
Na mesma linha, diríamos que a política de privacidade do Google, recentemente « simplificada », também suscita muitas dúvidas, já que as diferentes plataformas (como por exemplo o YouTube, o Google+ e o Blogger), passaram a partilhar entre si os dados dos utilizadores de modo a promoverem campanhas de publicidade ultra direcionadas. Felizmente a Comissária Europeia Viviane Reding endereçou esta questão.
A atual ditadura que existe no online, imposta pelos grandes motores de busca, leva a que apenas as empresas com meios financeiros avultados possam verdadeiramente beneficiar da totalidade das vantagens oferecidas pela Web. Apenas os sites desenvolvidos por especialistas experientes, utilizando as tecnologias mais recentes têm capacidade para obter uma referenciação SEO ótima e assim alcançarem resultados de pesquisa relevantes para o seu negócio. É verdade que a dimensão da primeira página dos resultados duma pesquisa é sempre limitada, porém as PME nacionais deveriam ter também a possibilidade de participar e de constarem deste tipo de listas.
Desenvolver um website de acordo com as regras e os caprichos dos motores de busca dominantes é uma tarefa muito dispendiosa. É preciso tempo, tecnologias poderosas, experiência comprovada para criar um site que seja ao mesmo tempo agradável e claro, que atraia visitantes, que garanta uma pontuação elevada nos resultados das pesquisas, e que seja capaz de manter estes mesmos visitantes durante um período de tempo relativamente longo.
Atualmente a Internet é uma espécie de Far West: uma terra rica em oportunidades mas submersa no caos. Qualquer um pode desenvolver e disponibilizar websites, mesmo sem possuir os meios, os conhecimentos técnicos e a experiência necessários para o fazer. Esta situação só pode ser alterada se a Comissão Europeia criar regras de conduta e impuser requisitos mínimos de qualidade, como aliás já o faz para outros setores de atividade, por exemplo para a indústria alimentar. Só dessa forma poderão os players de menor dimensão (leia-se as PME), ter pleno acesso a plataformas eficazes que os incluam nas listas mais alargadas de pesquisa dos consumidores, que deste modo passarão a ter acesso a uma base muito mais alargada de possibilidades de resposta às suas procuras. Respostas que frequentemente estão mais perto do local onde os utilizadores estão localizados, que oferecem níveis de serviço mais elevados e melhores preços.
71% dos websites em Portugal tem menos de 50 páginas e só 3% podem ser considerados como websites com grande volume de conteúdos (mais de 500 páginas). Os websites portugueses são, na sua maioria, atualizados com muito pouca frequência: 68% foram atualizados pela última vez há mais de um ano e apenas 5% foram atualizados nos últimos três meses.***
Há uma série de aspetos fundamentais que muito poucos daqueles que desenvolvem sites têm em conta – além de textos claros, que incluam um número alargado de palavras-chave relevantes, tais como META tags e palavras-chave simples nos títulos das páginas (em vez de uma complexa lista de letras, números e símbolos), é preciso que sejam congruentes, que possuam uma página de entrada que abra rapidamente (sem imagens pesadas) e que seja adequada para as ligações.
A web tem ainda muitos desafios a vencer no nosso país: apenas 7% dos sites portugueses, num universo de mais de 417.653 estão em conformidade com as obrigações legais ****, e estamos muito atrasados em tecnologia, ergonomia e manutenção. Estes defeitos também têm um impacto significativo nos nossos resultados nos motores de busca, sabendo que eles refletem entre outras coisas, a última atualização e o número de visitantes (e com razão, como eles normalmente estão interessados em plataformas não-amigável... o círculo vicioso é então envolvido...).
É chegada a hora das empresas, de todas as dimensões, terem ao seu alcance a possibilidade de investirem numa forte estratégia de marketing online. É ainda necessário que surjam novas ideias e boas ações de marketing, mais eficazes, e que enderecem as oportunidades disponibilizadas pela web semântica, que se aproxima a passos largos e que permite estabelecer ligações, estruturas e relações entre os dados solicitados na Internet. Mas também nesta matéria será fundamental proteger a confidencialidade e a objetividade, para que as informações não prejudiquem a democracia.
Joel Machado, Managing Director, Email Brokers Ibérica
* Dados do Estudo da Email Brokers – Barómetro da Internet Portugal 2012.
** Dados do Estudo da Email Brokers – Barómetro da Internet Portugal 2012.
*** Dados do Estudo da Email Brokers – Barómetro da Internet Portugal 2012
**** Dados do Estudo da Email Brokers – Barómetro da Internet Portugal 2012: “Os websites das empresas devem fornecer a todos os seus visitantes, um mínimo de informações sobre a sua atividade, como por exemplo: Nome ou designação social; Morada da localização geográfica da empresa; Coordenadas, incluindo o endereço de correio eletrónico, de modo a que possam ser contactadas facilmente e responder de forma célere; Número de pessoa coletiva ou número de contribuinte; Códigos de conduta aos quais a empresa está vinculada, bem como as informações relativas à forma como esses códigos podem ser consultados por via eletrónica; para empresas/ organizações sujeitas a regimes especiais de autorização: as coordenadas da autoridade reguladora/fiscalizadora competente; Forma jurídica da empresa ou organização, Indicação da sede social do tribunal da área territorial na qual a sociedade tem sede social e, ou se for o caso, indicação de estar em insolvência/falência. Finalmente, e caso o dono do website exerça uma profissão independente (ex: profissionais liberais): Associação profissional ou Ordem em que está inscrito; título profissional e dados da entidade na qual foi obtido; Referência às regras profissionais aplicáveis e aos meios para lhes poder aceder”.