Opinião
Os desafios da inclusão financeira
Quando falamos de inclusão financeira caímos muitas vezes no erro de associarmos apenas o termo a sociedades com elevados níveis de vulnerabilidade social e económica, ainda longe dos índices dos chamados países desenvolvidos.
Se é certo que o nível de inclusão financeira tende a refletir o grau de desenvolvimento de uma determinada comunidade, é errado assumir que essa inclusão possui uma forma de quase plenitude nas economias mais evoluídas.
Muitos dos modelos de negócio atuais não conseguem servir adequadamente os segmentos populacionais com baixos rendimentos. O desafio da inclusão financeira é, deste modo, entender quais as diferentes formas de alcançar e satisfazer os cidadãos que estão a ser servidos de forma ineficiente ou, no limite, que não acedem a estes serviços.
Na verdade, estamos ainda muito longe de um mundo de completa inclusão financeira. Nos países em vias ou em processo de desenvolvimento, por exemplo, continua a ser comum os serviços formais do setor financeiro servirem apenas uma pequena percentagem de cidadãos - normalmente aqueles que concentram maior riqueza -, deixando 80%, ou mais, da população, sem ferramentas financeiras básicas*. E mesmo nas ditas economias mais avançadas existem disparidades importantes, muitas vezes associadas a questões étnicas, de género, geracional e socioeconómicas, dispersas entre quem está totalmente incluído financeiramente e quem não o está.
Em Portugal, o trabalho associado à inclusão financeira começa a mostrar alguns resultados positivos, mas carece de apostas em frentes diversas e complementares, de modo a diminuir assimetrias socioculturais, que podemos resumir em três frentes de trabalho ativas, como forma de tentar alcançar a plenitude da inclusão financeira - integração, diversificação e inovação.
Integrar. Em termos práticos, a inclusão financeira deverá ser trabalhada paralelamente em várias áreas, assumindo prioridades como a aposta na literacia financeira dirigida a várias camadas da população, ou na inovação associada ao desenvolvimento de ferramentas que ajudem a democratizar o acesso aos próprios serviços financeiros.
No caso da aposta na literacia, é importante perceber os contextos e os agentes que urge abranger. E se a definição de iniciativas que levem às escolas e aos cidadãos jovens a informação necessária ao crescimento é essencial - como provam os projetos da Junior Achievement Portugal, que tenho a sorte de acompanhar de perto -, de igual modo essa informação pode fazer a diferença junto da população ativa e dos idosos.
Diversificar. Este sentido de integração pode ser encarado como o mais institucional da inclusão financeira, enquanto desígnio público que nos toca a todos, mas o papel das empresas torna-se cada vez mais importante no caminho para essa inclusão, sobretudo as que estão ligadas ao setor financeiro.
Aproveitando as suas estruturas e o seu "know-how", cabe às empresas fornecer incentivos à comunidade, mesmo que de forma indireta, fomentando o aparecimento de projetos concretos, inovadores, cada vez mais talhados às necessidades das populações. É, no fundo, o que algumas seguradoras já começam a fazer, colaborando com as chamadas "insurtech" e contribuindo para a mudança de paradigma neste setor.
Inovar. É a chave para a integração dos cidadãos nas diferentes políticas de inclusão financeira, usando a diversificação de soluções como forma de as adaptar aos mais variados contextos.
E num mundo dominado pela tecnologia, os desafios lançados a start-ups tecnológicas, ou com uma forte base de tecnologia no "core" do seu negócio, são uma fórmula que devemos cada vez mais apoiar. É o caso, uma vez mais, de projetos como o Inclusion Plus que a Verb tem levado a cabo em vários países com a MetLife Foundation, apostando nas empresas start-ups como agentes privilegiados para operar essa mudança.
O papel atual e futuro das grandes empresas do setor financeiro está exatamente em criar essas condições de evolução natural, seja apoiando diretamente entidades que operam no setor da inclusão financeira, seja fomentando o desenvolvimento de novas empresas com soluções novas, que ajudam à criação de um verdadeiro ecossistema financeiro inovador.
Será importante criar capacidade financeira nas famílias; ajudar a melhorar as operações dos prestadores de serviços financeiros; e liderar estes processos de mudança, de modo a criar um mercado mais maduro e informado.
*De acordo com o documento da MetLife sobre "Responsabilidade Social Supporting Thought Leadership to Advance Financial Inclusion" (http://bit.ly/2FLgtpy)
Diretor-geral da MetLife na Iberia
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico