Opinião
O novo Álvaro
Peço aos meus estimados leitores (aos dois) que tentem encontrar os três erros existentes no parágrafo que se segue.
Seguro admite que os salários em Portugal são "demasiado baixos". Para o líder do PS, "Portugal precisa da solidariedade da Europa e a Europa precisa da solidariedade de Portugal". O líder socialista não hesita em afirmar: "a Europa precisa de mudar de rumo".
Já descobriram? Não, o erro não está na utilização da expressão líder socialista. Acabou o tempo. A resposta correcta é, onde se lê "Seguro", "líder do PS" e "líder socialista", deve ler-se, respectivamente: Álvaro, o ministro da Economia e Santos Pereira.
É verdade. Por incrível que pareça, estas declarações foram produzidas pelo ministro da Economia do governo de Passos e Gaspar. Na minha opinião, Gaspar cometeu um erro. Ao tirar todo o dinheiro a Santos Pereira, deixou-o com muito tempo disponível. Em vez de ficar sentado no super-ministério, a contar rachas no tecto, o ministro da saudosa Economia foi arranjar "hobbies" para se entreter.
Álvaro parece o herói de um filme catástrofe que caminha no sentido contrário ao dos outros. Agora, o pastel de nata ficou para trás, os seus sonhos são maiores e até já vislumbra uma indústria europeia envolta numa nuvem de canela. Álvaro, apesar de dizer "rindustrialização", quer apostar na reindustrialização do país, e tem um plano Marchallito para a Europa. O chamado: Plano Alvarinho. Segundo as suas próprias palavras, quer "recuperar a indústria que Portugal perdeu nos últimos 30 anos". Ui, que ainda acaba o Sporting e regressa a CUF.
A última vez que ouvimos falar na estratégia do fomento industrial, tinha eu 4 anos e Salazar tinha tido um acidente com uma cadeira, que o fez regressar à meninice. Foi Marcelo Caetano quem teve a ideia. Mas eram outros tempos, e era mais fácil implementar uma ideia porque Portugal era um país muito diferente do que é hoje.
Nesses tempos, a RTP era controlada pelo Estado, as indemnizações por despedimento valiam cerca de 12 dias por cada ano de contrato, e não existiam preocupações ambientais. Ciente dessas limitações, Álvaro veio afirmar que a UE tem regras ambientais "fundamentalistas" que prejudicam a economia, e que a Europa tem de deixar de ser "naïf" em matéria de política ambiental. Resumindo: Álvaro acha que o aquecimento global é treta, e que é mentira que os doces façam engordar.
Ontem, foi apresentada a iniciativa "Portugal Sou eu", promovida pelo Ministério da Economia. Uma ferramenta que permite calcular o valor nacional incorporado nos produtos e aplicar-lhes uma espécie de selo que garanta pelo menos 50% de incorporação nacional, para que os portugueses possam optar por comprar o que é português. A ideia não é má, mas este programa, se aplicado igualmente por outros Estados europeus, pode dar cabo das nossas exportações. Acho a minha ideia melhor - podíamos pôr os produtos não portugueses a dar choques eléctricos em quem lhes pega. Electrificar, nos supermercados, tudo o que vem de outros países era essencial para a nossa economia e evitava que se gastasse dinheiro com campanhas. Pensem nisso. Aposto que a EDP, dos chineses, alinha.
Eu acho que a vida do ministro da economia ficou para sempre marcada pelo nome com que o baptizaram. Nunca perdoou terem-lhe posto o mesmo nome do Barreirinhas. É um nome com que ele tem de lutar. Se ao menos lhe tivessem chamado Manuel Tiago, talvez, hoje, fosse uma pessoa mais calma e de bem consigo.
Até para a semana, camaradas.