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02 de Janeiro de 2017 às 10:00

O papel da imprensa no tempo das falsas notícias

O ano que agora se inicia será fulcral para a imprensa demonstrar a importância do seu papel para a sociedade e para a democracia. A função que desempenha é hoje ainda mais relevante, à medida que a proliferação de falsas notícias, criadas por ‘sites’ enganosos, se multiplica em partilhas várias pelas redes sociais.

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As recentes eleições americanas vieram demonstrar a capacidade do algoritmo do Facebook de adaptar conteúdos, verdadeiros ou falsos, aos "likes" de quem usa esta rede social. Assim, o utilizador acaba por só ver, ou quase só ver, o que, verdadeiro ou falso, foi detetado como estando a seu gosto, e não vê o que não está a seu gosto.

A falsa "notícia" do apoio do Papa a Trump, surgida neste ano que agora acaba, insere-se neste registo, mas, como ela, entram todos os dias nas redes sociais centenas de outras, verdadeiras e falsas, que são criteriosamente enviadas a quem gostará de as receber e difundir.

Uma democracia não sobrevive sem liberdade de expressão e sem liberdade de imprensa. A imprensa é válida e necessária enquanto conseguir mostrar o seu contributo para uma sociedade esclarecida. Não poderá ficar parada a achar que a credibilidade que conquistou ao longo dos anos é eterna.  

Francisco Pinto Balsemão
É claro que as redes sociais têm aspetos positivos que devem ser reconhecidos. Mas, como escreveu Ricardo Costa, no "Expresso": "A questão é que as mudanças que introduziram levantam vários problemas e um dos mais óbvios é o de não favorecerem a democracia, promoverem toda e qualquer tendência e de transformarem as pessoas em carneiros acríticos, pastoreadas no ciberespaço sem saberem bem por quem ou por quê, mas sempre com esse enorme conforto de estarem entre amigos e conhecidos num prado de likes e shares em que quase nunca são confrontadas com o contrário do que pensam ou gostam. E isso é o sonho de qualquer ditador".

Se as pessoas, ou pelo menos, uma parte mais esclarecida do público que servimos, se recusarem a ser "carneiros acríticos" e perceberem a tempo – e o prazo é curto – que o que está em causa são os fundamentos do próprio regime democrático, o jornalismo profissional, cumprindo regras deontológicas, sujeito a sanções em caso de incumprimento, terá um importante e decisivo papel a cumprir. O mesmo raciocínio se aplica ao entretenimento da qualidade, de que tanto necessitamos para enfrentar as catadupas de imbecilidades que circulam na Net.

É essa a nossa função, no cumprimento dos nossos valores. É nisso que acreditamos e temos de continuar a acreditar. O papel da imprensa é este. Os direitos de informar e de ser informado são pilares básicos de uma democracia. Uma democracia não sobrevive sem liberdade de expressão e sem liberdade de imprensa. Não podemos dar a liberdade por adquirida e definitiva.

E terão de ser também os órgãos de comunicação social, em 2017, a ajudar os cidadãos a perceber o que é verdadeiro e o que é falso. Se as redes sociais, se os famosos algoritmos, não estão a limpar o lixo que habita na Internet, cabe-nos a nós, jornalistas, profissionais do setor, assumir o papel de separar o trigo do joio.

A democracia depende tanto da comunicação social como esta depende daquela. Thomas Jefferson dizia que se tivesse de escolher entre um governo sem jornais ou jornais sem governo, não hesitaria em escolher a última. Temo que as novas gerações utilizem esta frase substituindo a palavra ‘jornais’ por ‘redes sociais’.

A imprensa é válida e necessária enquanto conseguir mostrar o seu contributo para uma sociedade esclarecida. Não poderá ficar parada a achar que a credibilidade que conquistou ao longo dos anos é eterna. A validação faz-se a cada notícia, a cada reportagem, a cada entrevista.
Precisamos que essa validação aconteça em 2017, um ano cheio de incógnitas  para o Mundo, desde os EUA ao Afeganistão, desde a Venezuela à Somália, passando pelo expansionismo de Putin, pelas eleições francesas e alemãs, pelo crescimento do terrorismo e pela aparente insolvibilidade da questão das migrações.
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