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28 de Fevereiro de 2017 às 19:10

O mundo mudou, as pessoas não

A confiança dos trabalhadores em mudar de emprego é a mais baixa dos últimos dois anos e meio. Mas ao mesmo tempo o desejo de mudar de emprego subiu em relação ao trimestre passado.

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Uma ambiguidade em muito motivada pela "competitividade" do salário. Nos últimos anos assistimos a um "achatamento" do salário médio por função, levando a uma aproximação cada vez mais vertiginosa do salário mínimo nacional. Ao mesmo tempo o valor do salário mínimo nunca foi alvo de tantas subidas percentuais em tão curto espaço de tempo. Esta redução do salário médio faz com que Portugal tenha problemas de atractividade nas funções menos qualificadas e de quadros médios, ao mesmo tempo que depois não consegue acompanhar os valores dos quadros de topo. Este factor leva também a um fenómeno inédito a nível geracional, em que os nossos filhos podem vir a ter menor qualidade de vida do que a que lhes foi proporcionada enquanto dependentes. Entenda-se que neste conceito, o termo qualidade é na verdade menor rendimento médio por agregado, o que foi sempre acontecendo de forma evolutiva positiva até hoje, e que parece agora entrar em contraciclo.

 

O salário contribui também para o aumento da emigração. Não gosto de falar em fuga de cérebros porque não ficam por cá acéfalos, mas são muitos os licenciados que partem em busca de uma carreira internacional, enquanto outros respondem às assimetrias das ofertas, como sejam os enfermeiros que vão para a Bélgica ou os professores para o Reino Unido. Os fluxos migratórios são fundamentais para a economia, mas cada país tem de ter uma estratégia para equilibrar as suas competências e até a sua "idade".

 

Em paralelo a este fenómeno e até mais desafiante é como se responde aos jovens que não saem, mas que não têm mercado na sua área e que apoiados na sua família chegam à idade adulta muitas vezes sem qualquer experiência profissional, superqualificados, mas alvo de uma inércia e muitas vezes em ciclo depressivo. São jovens desempregados ou população em idade activa que não quer os trabalhos que existem e não têm qualquer subsídio. Num país com 49,9% de população inactiva, é difícil manter o optimismo quanto à nossa sustentabilidade económica e social. O envelhecimento da população, o aumento da esperança de vida e o "ratio" de menos de dois filhos por casal são factores que complicam a equação do crescimento.

 

As respostas não são simples, mas no mundo do trabalho há medidas que podem ser tomadas com impacto na nossa realidade. A primeira seria de âmbito legislativo. É fundamental ter um quadro normativo que promova a competitividade das empresas e a equidade dos trabalhadores independentemente do modelo de prestação. Um segundo ponto é a importância de as empresas fazerem a sua transformação digital. Acelerarem este processo tendo sempre em mente que a relação entre organizações e clientes será sempre uma relação de pessoa para pessoa (P2P) mesmo que intermediada por muitas máquinas. E porque falamos de pessoas, a felicidade tem de ser uma medida proactiva, uma decisão que deve estar integrada na oferta de trabalho das empresas, que, além de garantir todos os direitos fundamentais, deve ter uma política genuína de conciliação de vida profissional e pessoal. Pessoas mais felizes são consequentemente mais produtivas.

Para terminar, o "employer brand". As empresas em Portugal têm de trabalhar o conhecimento e a atractividade da sua marca enquanto entidade empregadora, tanto na sua estratégia de captação como de retenção de talento.

 

O mundo mudou, por isso temos de mudar com ele, acompanhar esta transformação, acreditar e seguir inconformados. O trabalho mudou as funções, os escritórios, a forma de trabalhar. Mas a importância das pessoas não foi trocada por máquinas, foi e tem de ser alavancada e valorizada e essa é uma responsabilidade de todos. Sem receios e com estratégia vamos ser os protagonistas da quarta revolução industrial.

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