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23 de Junho de 2020 às 20:30

O futuro do comércio e dos pagamentos digitais

Mais de 60% dos pagamentos nos mercados desenvolvidos são atualmente digitais, prevendo-se que a Suécia se torne a primeira sociedade no mundo sem dinheiro “físico” até 2023.

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O futuro dos pagamentos digitais é uma viagem de transformação. Se pensarmos em algumas das maiores transformações dos últimos 100 anos, verificamos que foram em grande parte impulsionadas por algo que foi substituído, removido ou que simplesmente desapareceu por completo. 2020 marcou o início de uma nova transformação com a enorme perturbação global que a pandemia covid-19 e o confinamento de pessoas gerou. Estamos a viver uma mudança significativa na vida das pessoas em todo o mundo, o que irá desencadear muito mais transformações. Neste caso, a necessidade de reduzir o contacto físico terá impacto na forma como vivemos e interagimos com os outros e na forma como as empresas e os consumidores se relacionam uns com os outros, o que irá, sem dúvida, tornar-nos a todos mais digitais.

 

Permitam-me que vos dê um exemplo das nossas vidas muito antes da covid-19. Quando foram introduzidos, pela primeira vez, os telefones sem fios eram denominados, em parte, pela inclusão do que faltava - fios e cabos. Agora, chamamos-lhes só telefones, ou até mesmo telemóveis, porque a sua utilização vai muito além de fazer uma simples chamada. Usamos telemóveis para tirar fotografias, acompanhar a família e os amigos, organizar a nossa vida, aprender, por lazer, fazer compras e fazer pagamentos. Estão a tornar-se em assistentes pessoais de massas e têm sido o principal motor da digitalização do dia a dia, do comércio e dos pagamentos.

 

Olhando para o futuro, à medida que o comércio e os pagamentos evoluem, os dispositivos móveis, a "big data", a hiperpersonalização, as experiências ambientais e outros avanços estão a mudar a forma como vivemos, comunicamos, trabalhamos e fazemos pagamentos.

 

Eis o que pensamos estar reservado para o comércio e o setor dos pagamentos nos próximos 5-10 anos.

 

O caminho para o "cashless"

A conveniência de não transportar dinheiro ou um livro de cheques resultou num cartão para quase todas as formas de pagamento: crédito, débito, programas de fidelização gratuitos, pontos, milhas e cupões.

 

Mas a mudança para os cartões introduziu um tema quente - o conceito de uma sociedade sem dinheiro.

 

As transações sem dinheiro estão a crescer ao ritmo mais rápido de sempre, lideradas pela Ásia, que está a crescer a uma taxa de 32%(1). Mais de 60% dos pagamentos nos mercados desenvolvidos são atualmente digitais, prevendo-se que a Suécia se torne a primeira sociedade no mundo sem dinheiro "físico" até 2023(2). A transição para um sistema "cashless" foi aceite por muitos, mas em alguns países e cidades estão a ser promulgadas leis que exigem que as empresas continuem a aceitar numerários. Estes legisladores consideram que o "cashless" é uma forma de exclusão para as pessoas que não têm dinheiro para abrir uma conta bancária. No entanto, a pandemia da covid-19 acelerou este processo. Segundo um estudo da Universidade de Oxford(3), o dinheiro é uma via de transmissão de bactérias: até 26.000 por cada nota bancária. Em muitas áreas, o receio de que as notas ou moedas sejam um veículo de transmissão de infeções levou alguns estabelecimentos ou serviços a proibi-las.

Se for esse o caso, como promovemos a progressão dos pagamentos digitais de uma forma que deixe todos os interessados à vontade?

No cerne de uma experiência de pagamentos fiável e sem fricções está a utilização segura e adequada dos dados. Os clientes querem ser informados da forma como os seus dados pessoais são recolhidos, armazenados e partilhados em toda a viagem comercial. No entanto, a fim de aproveitar os dados e utilizá-los de forma responsável em todo o seu potencial, é necessário verificar muitas questões: conformidade regulamentar, privacidade e segurança. Os dados dos clientes devem ser protegidos por fortes medidas de cibersegurança, apoiados pela evolução das características de fraude e risco e tratados de forma a cumprir os requisitos regulamentares em todo o mundo. 

 

Digitalização da moeda ajuda a eliminar os limites para a inclusão financeira

 

Tal como com qualquer transformação importante na indústria do comércio, antes de se tornar realidade tem de ser abraçada primeiro por todo o ecossistema: consumidores, comerciantes, parceiros e reguladores. É o caso da moeda criptográfica e da moeda virtual, bem como da tecnologia subjacente à blockchain. Todos têm um potencial único no comércio e nas indústrias de pagamentos.

 

A blockchain, por exemplo, é conhecida pelo seu potencial em termos de confiança, identidade, pagamentos, contratos e custódia. A moeda virtual não é apenas uma forma de gerir e movimentar dinheiro, já que proporciona o acesso ao ecossistema financeiro sem uma conta bancária, algo experimentado por comunidades mal servidas. E embora permaneça volátil e sob escrutínio a muitos níveis, a moeda virtual é elogiada pelo seu anonimato e viabilidade como um ativo fora da infraestrutura financeira tradicional.

 

A digitalização da moeda é apenas uma questão de "se", e não de "quando". Na próxima década, a moeda passará a ser mais digitalizada e, provavelmente, beneficiará de um maior apoio por parte das fintech, dos governos e dos reguladores. Mas, mais importante ainda, para que as moedas digitais sejam adotadas pelos consumidores, estes devem sentir que se trata de um método seguro e conveniente de se envolverem no ecossistema financeiro.

As experiências ambientais proporcionam oportunidades ilimitadas para o comércio

 

Se acreditamos agora que os maiores avanços nos pagamentos vão acontecer através da eliminação de coisas, os pagamentos vão ser feitos por um ato de desaparecimento - com pagamentos ambientais. Um mundo em que a intenção de fazer compras e o pagamento já não são duas ações explícitas.

 

Na próxima fase do comércio, as linhas serão esbatidas entre o consumo, as experiências da vida quotidiana, e o pagamento dessas experiências. Os comerciantes farão parcerias com plataformas de pagamento para que o comércio seja o mais harmonioso possível. Basta pensar na última vez que encomendou comida em casa. Pagou quando a encomendou ou a comida chegou a casa ou algures pelo caminho?

 

Não era preciso pensar nisso. Simplesmente aconteceu - porque nós fizemos desaparecer os pagamentos. Um desaparecimento tornado possível por pagamentos que são alimentados por um ecossistema robusto, seguro e fiável.

 

Os pagamentos tornam-se como o ar - invisíveis, mas sempre lá para as suas necessidades.

 

 

(1)Capgemini World Payments Report 2019

(2)Wharton: Why Cash Won’t Lose Its Cachet Any Time Soon

 

(3)Dirty money: an investigation into the hygiene status of some of the world’s currencies as obtained from food outlets.

 

SVP e CTO, PayPal

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