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27 de Outubro de 2017 às 10:30

Moção de emoção

Dos beijos do PR com pouco recato, às cantigas de amigo de Costa e cartas de desamor da ex-ministra, passando pelo tom angelical Miss Eucalipto e acabando com Montenegro a falar de um PM insensível, cada um aproveitou o que podia. 

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Foram três horas e meia de debate sobre a Moção de Censura de Cristas na Assembleia da República. Foi uma Moção à antiga portuguesa. Penso que o nosso PR gostou. Aliás, a seguir ao chumbo da Moção, o Presidente Marcelo apareceu e disse que achava que a democracia tinha funcionado. Ufa! A democracia funcionou, que alívio, senhor Presidente. Imagina se não tem funcionado? Estava tão nervoso, só de imaginar ver as tropas na rua com o material de Tancos todo sujo de terra. Por acaso, estava com medo que não funcionasse aquando da votação da Moção de Censura, porque o computador da, agora deputada, Constança Urbano de Sousa não ia funcionar e iriam ter de repetir a votação, infinitamente.

 

Esta era uma Moção de Censura estranha porque acabava por censurar a própria autora. O ponto de partida, os incêndios, as mortes e a ausência de Estado são uma espécie de Crime no Expresso do Oriente. Há o que deu a última facada, mas de ambos os lados, da oposição e actual Governo, todos são culpados. Uma Moção de Censura com este epicentro, se derrubasse o Governo, também devia derrubar Cristas.

 

Alguns chamaram-lhe Moção de Emoção, feita mais com o coração do que com razão. Outros, Moção de Abutres, com o aproveitamento político de uma tragédia. Eu acho que é uma mistura das duas. Uma coisa típica da Cristas. Só estranhei não ser a Ágata a cantar a Moção. Acho que é injusto acusar a presidente do CDS de aproveitamento político da tragédia dos incêndios, penso que terá, apenas, aproveitado a felicidade de já não haver Passos Coelho. Acabou por ser um debate confuso porque o CDS passou mais tempo a tentar justificar-se do que a pedir justificações ao Governo. A certa altura, dava a sensação de que o CDS estava a tentar convencer-se de que a Moção tinha sido uma boa ideia. Vi a líder do CDS dizer que Costa "tratava assuntos sérios com muita ligeireza". Ou seja, como quem diz, vou sair da praia e assinar o BES de cruz.

 

Neste assunto, acho que houve aproveitamento político dos três lados do triângulo da geringonça: PR-PS-Oposição (CDS-PSD) e uma espécie de súbito desaparecimento político do BE e PCP. Dos beijos do PR com pouco recato, às cantigas de amigo de Costa e cartas de desamor da ex-ministra, passando pelo tom angelical Miss Eucalipto e acabando com Montenegro a falar de um PM insensível, cada um aproveitou o que podia.      

 

Para terminar, alguns comentadores de direita disseram que o objectivo da Moção não era fazer o Governo cair. Claro. Basta ver as sondagens. Além do mais, provocar eleições nesta altura seria contraproducente, só o que se gastaria em boletins de votos..., lá iam umas centenas de árvores.

 

 

 

TOP 5

MOÇÃO VALENTE

  1. Santana Lopes defende que não se chame "geringonça" ao Governo porque "eles gostam" - Eles só não apreciam que lhes chamem "má moeda". 
  1. Daniel Oliveira: as redes sociais? "São uma nova forma de não pensar" - Nem todos têm oportunidade de fazer o mesmo no Eixo do Mal. 
  1. Juiz de acórdão polémico sobre adultério fez parte do júri que selecciona juízes - Imagino como será a seleccionar  juízas: "Como é que se ajeita na cozinha? E em termos de costura? Faz bainhas em togas?" 
  1. Ferro Rodrigues: "Tancos teve momentos altamente cómicos" - Estas declarações são um desses melhores momentos. 
  1. Santana Lopes quer debates com Rio nas distritais porque "as televisões têm tempo limitado e, nas distritais, podemos estar toda a noite a debater" - E ninguém o interrompe por causa de futebol.

 

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