Opinião
Fintechs e Banca tradicional são compatíveis?
As semelhanças entre Fintechs e Banca tradicional são muito maiores do que as diferenças, por isso, do meu ponto de vista estas duas realidades são perfeitamente compatíveis, numa lógica de parceria e de respeito mútuo, porque há bons motivos para aprenderem e crescerem juntos.
Na teoria, as Fintechs e a Banca tradicional têm tudo para dar certo, mas nem sempre é fácil compatibilizar perfis de gerações diferentes, mais ainda quando as mais novas têm pouca maturidade. Esta metáfora serve para caracterizar a relação que estas duas realidades financeiras vivem aos dias de hoje e justificam a pergunta: será que as Fintechs e a Banca tradicional são compatíveis?
O foco num público-alvo bem determinado – habitualmente de nicho – e a oferta de produtos específicos permitiu às Fintechs ganharem uma base de clientes sustentável para crescer e continuarem a inovar. Beneficiaram do desenvolvimento tecnológico, é certo, mas tiveram o mérito de criar novos modelos de negócio marcados pela personalização, eficiência e agilidade, que disromperam a experiência de banca dos clientes. O poder passou a estar do lado do utilizador, ou seja, impera a simplicidade e os automatismos e reduziram-se os intervenientes e as ineficiências.
De acordo com o Portugal Fintechs report 2020, a maioria dos clientes de entidades financeiras fazem parte da Geração X e Millennials. Em breve, esse espaço será ocupado pela Geração Z, ou seja, pessoas para as quais a tecnologia é omnipresente. Verifica-se que esta geração tem habitualmente conta em dois bancos: uma, num banco tradicional português e, outra, numa Fintech, utilizada sobretudo num contexto internacional. Uma preferência motivada pela experiência digital peer-to-peer(1), a isenção de comissões de conta ou de câmbio, a análise de custos da conta-corrente, entre outros exemplos valorizados pelos mais jovens, como seguros de saúde de curta duração, por exemplo.
Sabe-se também que, em Portugal, os produtos de Fintechs mais procurados são para pagamentos, transferências, seguros, blockchain e cryptomoedas. É visível também uma crescente preferência por soluções relacionadas com cibersegurança, finanças pessoais, crédito, financiamento alternativo e gestão de património, ou seja, a oferta disponibilizada pelas Fintechs começa a tocar em todas as linhas de negócio da Banca tradicional.
Apesar destas tendências, os Bancos continuam a dominar o setor financeiro, pela solidez, escala, capilaridade e pela oferta de um conjunto de serviços complementares entre si. A somar a isto, demonstraram resiliência ao atravessarem provações como a adequação a novas diretrizes (como a PSD29), novos concorrentes, alterações de moeda e até mesmo da pandemia. Muito porque mantiveram uma relação de proximidade com os clientes, investiram na omnicanalidade dos seus pontos de contacto e na adequação da oferta à realidade dos clientes.
Apesar de pertencerem a duas realidades distintas, o setor financeiro tem assistido a bem sucedidas experiências de parceria estabelecidas entre a Banca tradicional e as Fintechs. Um desses casos é o do Banco Radius, que, para além de ter criado um marketplace formado por Fintechs no sentido de oferecer aos seus clientes novos formas de gerir o dinheiro, associou-se à Credible, para oferecer crédito personalizado, em tempo real, comparando taxas competitivas entre diferentes credores.
Feito este enquadramento e terminando o raciocínio que motivou este texto, é evidente que as semelhanças entre Fintechs e Banca tradicional são muito maiores do que as diferenças, por isso, do meu ponto de vista estas duas realidades são perfeitamente compatíveis, numa lógica de parceria e de respeito mútuo, porque há bons motivos para aprenderem e crescerem juntos.
(1)O peer-to-peer lending é uma forma de investimento e empréstimo de pessoas físicas para pessoas jurídicas, por meio de uma plataforma digital e sem o intermédio de um banco. Em geral, os investidores têm um retorno melhor; e para os credores, os juros são mais baixos. Peer-to-Peer Lending consiste, basicamente, numa plataforma online que faz corresponder quem precisa de dinheiro com quem está disposto a emprestá-lo. O dinheiro é emprestado a empresas ou particulares, sendo que hoje há muitas empresas especializadas em empréstimos específicos: casa, estudos, consumo, etc. As Peer-to-Peer Lending são provavelmente a face mais visível e bem-sucedida das fintech e mais um caso de sucesso da Economia da Partilha. Têm mais de uma década de existência e existem dezenas destas empresas a operar no mundo inteiro, sendo os mercados Norte-Americano e do Reino Unido os mais maduros.