Opinião
Conseguirão as empresas portuguesas exportadoras apanhar o comboio?
As exportações são uma fatia importantíssima para a sobrevivência das empresas portuguesas e para o PIB nacional e o apoio ao nível dos seguros de crédito deve ser mais ambicioso e robusto.
Agora, após 3 meses passados do pico da covid-19 e nesta fase de aprendizagem constante de retoma, o Governo trabalha para um equilíbrio entre a saúde dos portugueses e a saúde da economia.
Neste último ponto, fomentar a retoma da economia através de apoios concretos às empresas nacionais é absolutamente crucial. Às empresas que antes da covid-19 eram exportadoras, pretende-se (e pedimos) que assim se mantenham neste período. Infelizmente, nem todas têm confiança para continuar a fazê-lo ou fazem-no com incertezas e vulnerabilidade. Há que promover as exportações, com apoios fortes, sólidos e abrangentes.
As exportações portuguesas estavam a ir por um caminho de crescimento, valendo 44% do Produto Interno Bruto em 2019, com o objetivo de chegar aos 50% do PIB. Com o início da pandemia, em março, deu-se uma quebra de 12,7% e no mês seguinte caíram 39,8%, segundo dados do INE. É verdade que este contexto nos apanhou todos desprevenidos e que este decréscimo tem que ver também com uma causa mais global e com o abrandamento ou paralisação de alguns setores que estamos dependentes. Mas é verdade também que a falta de apoios e incentivos não ajudou para corrermos, ainda que em contra-ciclo. E é ainda mais verdade que, se não incrementarmos as medidas de apoio, vai ser muito mais difícil apanhar o comboio.
O seguro de crédito é uma ferramenta fundamental e que permite dar condições para que as empresas efetuem transações comerciais com maior segurança, já que tem como propósito cobrir o risco de incumprimento dos clientes. Ora se o Seguro de Crédito tem sido ao longo dos anos um dos instrumentos fundamentais no apoio à economia e uma segurança para as empresas exportadoras, neste período, é absolutamente crucial!
No dia 13 de março, e ainda num cenário de grande incerteza, foi aprovado um conjunto de medidas relativas à situação epidemiológica do novo coronavírus, entre elas medidas de apoio ao reforço das linhas de seguros de crédito à exportação com garantia do Estado, como o aumento de 250 milhões de euros para 300 milhões de euros para a Linha de Seguro de Créditos à Exportação de Curto Prazo, ou seja, apenas 50 milhões adicionais.
Há cerca de três semanas, e depois de uma grande pressão por parte do tecido empresarial, nomeadamente através de confederações patronais de setores como a Agricultura, Comércio e Serviços, Indústria, Construção e Imobiliário e Turismo, o Estado Português anunciou um pacote de 750 milhões de euros para apoio ao Seguro de Crédito.
Este pacote, que já veio tarde comparativamente aos países da União Europeia, e que, por isso, já levam um avanço em termos de competitividade relativamente às nossas empresas, ficou, aquém das expectativas. Ficou aquém ao nível da garantia de fluidez na exportação das nossas empresas e, paralelamente, ao nível das restrições. Se as empresas exportadoras dos países da EU conseguiram uma solução de forma célere e sem restrições, em Portugal, para além de um atraso de 3 meses, os 750 milhões garantem apenas o seguro de crédito de exportação para a União Europeia e determinados países da OCDE. Não garantem a possibilidade de resseguro (colocando de fora milhares de empresas que possuem o seu seguro de crédito através de instituições financeiras) e implicam ainda custos proibitivos (muito acima do mercado) com perda de competitividade para as empresas.
Tempos de crise são (também) tempos de oportunidade. Da mesma forma que algumas empresas nacionais, em plena crise financeira em 2009, procuraram oportunidades além fronteiras, nesta pandemia podemos assistir à mesma estratégia por parte das nossas empresas, no entanto, são precisamente os mercados da EU que se encontram, também, fortemente debilitados, podendo haver outros países, mais longínquos, com melhores oportunidades.
Períodos conturbados como o que estamos a viver exigem medidas mais fortes e que tenham em conta o empoderamento das empresas, não apenas ajudá-las a sobreviver. O lay-off, tendo sido uma medida inevitável e absolutamente essencial para a sobrevivência de muitas empresas de diversos setores, é insuficiente para as mesmas poderem investir e ganhar força. Neste momento, ainda há liquidez, precisamente devido às medidas como o lay-off, o apoio aos empréstimos e às moratórias, mas há que pensar, desde já, no final do prazo dessas mesmas medidas, para não termos outro grande problema.
As exportações são uma fatia importantíssima para a sobrevivência das empresas portuguesas e para o PIB nacional e o apoio ao nível dos seguros de crédito deve ser mais ambicioso e robusto. Hoje, passados três meses, há que acelerar e assegurar medidas de capitalização para as empresas para tentar apanhar o comboio das empresas internacionais que competem nos mesmos mercados que as portuguesas. E já vamos tarde!
CEO BNP Paribas factor Portugal