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12 de Setembro de 2013 às 00:01

Austeridade versus Exportações e Crescimento

Para Portugal crescer, além de ser necessário reduzir substancialmente o âmbito do Estado, será fundamental abandonar o discurso falacioso e contraproducente de que as exportações são boas e as importações são más.

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Há bastante tempo que meio mundo tenta convencer a outra metade de que o crescimento é uma alternativa à austeridade. Gente bem-intencionada, mas mal informada. Acreditam que o crescimento económico é fruto de um plano, de políticas públicas. Incentivo aqui, incentivo acolá farão crescer a economia, qual agricultor cultivando um campo de batatas. Com mais ou menos piscar de olho à popularidade, Presidente da República, Governo e Oposição têm ajudado a que se instale esta ideia absurda, mas dominante em Portugal.


Basta ter presente a história económica da Europa e os últimos vinte anos em Portugal, para perceber que a prosperidade não é fruto da despesa pública nem de programas estratégicos. Apesar dos restylings modernos, as receitas do passado não nos tirarão da crise actual. Mesmo outrora, não consta que o planeamento tenha dado grande resultado na RDA ou que Sócrates tenha deixado o país em situação invejável.

Como diria uma senhora no início dos anos 80, em Blackpool, "não existe dinheiro público". Aquilo que o Estado gasta provém de impostos ou empréstimos. Não se gera riqueza. Há apenas um desvio de recursos do sector privado para o sector público, tirando-se a uns para dar depois a outros, de acordo com critérios necessariamente subjectivos e ineficientes.

É a criação de riqueza que torna sustentável o crescimento. Não a acção dos Governos com a sua intervenção directa ou indirecta na economia. Apenas a livre prossecução dos interesses próprios de cada indivíduo através do trabalho, na produção de bens e serviços que outros pretendam adquirir, permite que a sociedade seja civilizada e prospere. O ritmo do aumento do bem-estar geral é determinado pela propensão relativa dos cidadãos e das empresas em investir, poupar e consumir.

De igual modo, muitos agentes políticos e até diversos economistas defendem uma economia baseada no crescimento das exportações. Na sua lógica, o aumento das vendas ao exterior irá sustentar o desenvolvimento do país.

O problema está em que, tal como a criação de riqueza não depende do consumo interno, uma acrescida procura internacional não é fonte de crescimento. A relação de causalidade é precisamente a inversa. Ou seja, para gerar riqueza é necessário haver produção e esta só é possível potenciar através do investimento que depende, por sua vez, da disponibilidade de capital acumulado em poupanças diversas.

Não é pois a procura que determina a oferta. A procura só poderá ser satisfeita se precedida de produção. O rendimento advém da produção que nos permite trocar pelo que queremos consumir. Se consumir enriquecesse, decretava-se a obrigatoriedade de ir diariamente às compras e num ápice ficaríamos ricos. Gostamos todos de consumir. Pena não produzirmos o suficiente para satisfazer todos os nossos desejos, a menos que as compras sejam feitas com dinheiro que outros pouparam, mas aí gera-se dívida, juros e alguém nos exigirá a devolução do que nos emprestou.

Por outro lado, já se sabe há um par de séculos que a grande vantagem do comércio internacional não advém da exportação, mas sim da possibilidade que abre a produtores e consumidores de comprarem a um custo mais baixo, independentemente do país de origem do respectivo produto ou serviço. Os recursos que se poupam serão usados em actividades mais proveitosas.

Produz-se para consumir, exporta-se para importar.

Para Portugal crescer, além de ser necessário reduzir substancialmente o âmbito do Estado, será fundamental abandonar o discurso falacioso e contraproducente de que as exportações são boas e as importações são más.

À austeridade não se contrapõe o crescimento. As exportações são o preço das importações.

* MBA. Especialista em Internacionalização

telmo.azevedo.fernandes@gmail.com

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