"Que Sera Sera, what ever will be, will be; The future's not ours to see. Que Sera Sera."
Doris Day

Depois de ano e meio a falar: aos antigos governantes, aos alunos passivos, aos actuais governantes, aos seguidores do facebook, aos açorianos, sozinho, aos proprietários de hotéis de cinco estrelas e à sua Maria, finalmente, no primeiro dia do novo ano, Cavaco falou aos Portugueses. O Presidente da República denunciou as desigualdades entre ricos e pobres e as "ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia que insinuam que o crescimento económico se deve conseguir à custa da erosão da função social do Estado" e … espera… peço desculpa. Confundi as mensagens de ano novo. Esta foi a mensagem de ano novo do alemão mais poderoso do mundo, o Papa Bento XVI. A confusão é admissível porque a mensagem de Cavaco Silva também tem um carácter divino, com uma componente de fé grande e muito de "aparição".

Ao longo do discurso, o nosso PR diz ter "esperança que isso aconteça". Afirma "esperança num tempo melhor". Salienta que "a minha esperança funda-se". Acredita que "pode ser que se comece a alterar". E termina dizendo que "é possível que" e deseja que. Cavaco deve ter escrito o discurso enquanto comia as passas. Cavaco acredita com firmeza que talvez, se se der o caso, quem sabe, pode ser que exista alguma probabilidade que tudo se vá resolver. Ou então não.

O "vai não vai" de Cavaco compreende-se, porque ele acha que não há alternativa ao cumprimento do memorando e tem a convicção de que o cumprimento do memorando está a dar cabo do País e é urgente travá-lo. Cavaco é o Moisés que fica no meio das águas enquanto o povo sagrado se afoga. Resta, como já vai sendo habitual, o nadador salvador na forma de Tribunal Constitucional.

Eu até simpatizo com o TC, mas acho que, aos juízes, faz falta carro, computadores e telemóveis. Eles precisam de aproveitar melhor o tempo. Três meses para verificar se existem inconstitucionalidades, num documento urgente para o funcionamento do Estado, parece-me claramente exagerado. Se o taxista, que ontem me conduziu a Benfica, detectou inconstitucionalidades no Orçamento, depois de dez minutos parado na Segunda Circular, qualquer especialista tem a obrigação de fazer o mesmo em três segundos. Só entendo que sejam necessários três meses se os juízes do TC não tiverem com quem deixar os miúdos. O Orçamento é tão inconstitucional que Cavaco Silva pediu à Marisa Cruz para ir lá a casa tirar artigos de uma tômbola, e saiu o: 29, o 77 e o 78. E o suplementar é o 31, que vai chegar lá para Março.

No momento em que escrevo a crónica ainda não houve uma resposta oficial do Governo à mensagem de ano novo de Cavaco Silva. Para responder ao discurso de Sua Exa. o Sr. Presidente da República, apareceu Teresa Leal Coelho (seiscentésima-sexagésima-sexta figura de Estado). A deputada laranja que, há cinco dias, festejava com estrondo a bênção orçamental do Presidente veio manifestar o seu repúdio e discordância com a mensagem. A vice-presidente do PSD, que foi braço direito de Vale e Azevedo aquando da sua passagem pelo Benfica - tenho a teoria de que ela usa sempre uns lenços enormes enrolados no pescoço porque ainda tem tatuado, na jugular, "I love Vale Azevedo" - já devia ter aprendido a ser mais cautelosa para evitar fazer, de novo, figura de arrependida. Minha senhora, a história tende a repetir-se e já estivemos mais longe de regressar ao tempo em que "um escudo é um escudo". Veja lá isso.

Uma Espiral Recreativa

1 - BE exige que o Estado tenha o usufruto dos milhões que injecta no Banif - Parabéns, também já somos donos do Banif. Não sei se me vou habituar a ter de andar de gravata. Não sei se estamos bem vestidos o suficiente para podermos salvar um banco.

2 - Final da "Casa dos Segredos" vista por 1,8 milhões - que votaram Sócrates, Cavaco, Passos e (os mais velhotes) Godinho Lopes.

3 - Telescópio espacial Herschel está nos últimos momentos de vida - e envia 3 artigos para o Tribunal Constitucional.

4 - Relvas de férias no Copacabana Palace - já está a contar com o chumbo do artigo 29.