Opinião
A poupança, a economia e os seguros
A poupança interna desempenha um papel-chave no desenvolvimento dos países, sendo a principal fonte de recursos para o financiamento do investimento e para a criação de projetos de reforma estrutural que promovam o desenvolvimento económico e social.
Assim, a par da educação e da tecnologia, a poupança está entre os principais fatores que estimulam o crescimento económico.
Além disso, a poupança é o processo através do qual uma economia reserva parte do seu produto usando o mesmo para gerar receitas futuras.
As famílias poupam dinheiro para comprar uma casa ou para a reforma. As empresas retêm resultados para construir novas unidades, e os governos acumulam ativos em sistemas de pensões e infraestruturas. A poupança agregada constitui a principal limitação para a despesa em investimento e, portanto, desempenha um papel macroeconómico crucial.
Considerando que a despesa em investimento proporciona uma relação fundamental que conduz à produtividade e ao crescimento da receita real, para que a economia avance a um ritmo aceitável é preciso uma adequada oferta de poupança.
Desde os anos oitenta, a absorção da poupança do setor privado por parte do Estado tem vindo a crescer, ao mesmo tempo que se assiste ao crescimento rápido da população em idade de se reformar. Atualmente este problema tem vindo a agravar-se, na medida em que a população na idade de reforma gerará menores taxas de poupança e maiores défices orçamentais, principalmente no que diz respeito aos pagamentos de pensões e serviços de saúde.
Estes fatores, entre outros, põem em evidência a importância de se tomarem ações que visem a diminuição da dependência da poupança externa e, ao mesmo tempo, promovam a poupança interna.
O setor segurador teve e continuará a ter um importante papel na criação e canalização da poupança interna. Por isso, seria recomendável ponderar a forma como a atividade seguradora se deveria enquadrar na estratégia de crescimento para os próximos anos.
O setor segurador capta uma parte importante da poupança da sociedade. O seu peso no PIB é de 7,1 %. No entanto, medir a importância do setor segurador, atendendo ao seu peso dentro do PIB, é uma forma de subestimar a sua verdadeira dimensão. Considerando os montantes de capitais seguros, o seu peso no PIB é de 1,6 vezes.
As empresas de seguros apoiam a eficiência da economia ao se concentrarem na previsão, proteção e assunção de riscos. Consequentemente, ao proporcionar aos distintos agentes económicos uma maior certeza nas suas operações, conduzem a uma melhor e mais eficiente imputação dos recursos disponíveis, contribuindo para o aumento do investimento e do crescimento económico.
Adicionalmente, os montantes de fluxos financeiros ao dispor das seguradoras, através do investimento das suas provisões técnicas, fornecem muita liquidez, estabilidade e consistência ao sistema financeiro.
No âmbito dos planos de pensões complementares de reforma da segurança social existe ainda potencial de oferta de produtos e serviços por parte do setor segurador, o que representaria uma importante fonte de poupança a longo prazo.
A existência de elevadas perdas não esperadas no património familiar, nas empresas e nas infraestruturas resultantes de catástrofes naturais e a necessidade de uma rápida reparação têm levado o Estado a assumir esta responsabilidade. Os seguros desempenham assim um papel de alto conteúdo social e económico.
Em conclusão, não restam quaisquer dúvidas sobre o contributo do setor segurador para atenuar o uso dos orçamentos públicos e privados.
Presidente da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões
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