Opinião
A opção pela Saúde baseada no valor (Value Based Healthcare)
Os tempos que estamos a atravessar vieram chamar-nos ainda mais a atenção para o papel central da Saúde na nossa vivência coletiva, na nossa organização como sociedade e mesmo como garante da nossa sobrevivência como espécie.
Sempre me custou muito a compreender a razão ou as razões para que certos conceitos como eficiência, produtividade ou valor só muito tardiamente, de forma assimétrica e sob forte resistência, têm vindo a ser integrados no dicionário da prestação de cuidados de saúde.
Serão porventura as mesmas que têm sido responsáveis pela igualmente tardia e também resistente adoção e endogeneização das tecnologias de informação e do digital nesta área.
Em ambas as dimensões seria muito interessante e certamente pedagógico se fosse possível estimarmos os custos destas hesitações, em termos de qualidade e quantidade de vida perdida e em termos de sobrecarga financeira.
Ouço justificações, por regra almofadadas numa assumida superioridade moral e ética, que apontam para as sempre convenientes especificidades da Saúde.
A abordagem pelo valor que Michael Porter, em boa hora e com a simplicidade que caracteriza as boas ideias, introduziu e a que se tem vindo a designar por “Value Based Healthcare” abriu, ou melhor dizendo está a abrir, um caminho muito interessante neste domínio.
A resistência não baixa a guarda mas a mudança, que não vai ser fácil nem rápida, parece ganhar caminho. Os argumentos são fortes e, em última análise, serão mesmo “win-win”: em vez de quantidade privilegia-se qualidade; com medição de resultados, os clínicos, mas também os percecionados pelo doente/cliente; para que possamos comparar e melhorar de forma contínua; ou seja gerir, gerir pelo valor em saúde.
Os tempos que estamos a atravessar vieram chamar-nos ainda mais a atenção para o papel central da Saúde na nossa vivência coletiva, na nossa organização como sociedade e mesmo como garante da nossa sobrevivência como espécie.
Vamos mesmo ter de trabalhar consensos para melhorar as respostas que os nossos concidadãos exigem e merecem, quer por cá, quer um pouco por todo o mundo, designadamente na forma como alocamos os recursos disponíveis e no modo como os gerimos. Os diagnósticos estão feitos e passam por mais e melhor prevenção, por maior atenção aos estilos de vida e ao acompanhamento da doença crónica e pela inteligente utilização da tecnologia e da gestão, incluindo definitivamente na equação a eficiência, a produtividade e o valor.
É um trabalho e uma responsabilidade de todos, os clínicos, os gestores, os cientistas e os cidadãos, todos nós.
Para isso precisamos de introduzir no sistema uma camada de monitorização e avaliação, simples e que todos possam entender. É assim urgente avançarmos na digitalização e na obtenção de todo o potencial dos dados e da informação.
O trabalho pioneiro na cirurgia da catarata que 12 hospitais portugueses, públicos e privados, liderados pelo Health Cluster Portugal estão a levar a cabo poderá ser considerado modesto, mas constitui um passo muito significativo na direção certa que merece ser conhecido e sobretudo replicado.