Opinião
Tendência de desaceleração económica continua na Zona Euro
Vamos ter eleições europeias e os resultados poderão também criar volatilidade. O crescimento dos partidos populistas e extremistas é uma realidade que não se pode esconder e que pode provocar efeitos negativos nos indicadores de confiança económica. Não está fácil!
Em anterior artigo, mencionei que um dos principais indicadores que os investidores em ativos financeiros e em ativos reais devem seguir é o PMI ("Purchasing Managers Index") da indústria. Trata-se de um indicador de confiança que ao longo do tempo se tem manifestado dos mais robustos para estimar a evolução do PIB e dos mercados financeiros.
O indicador PMI da indústria da Zona Euro foi 47,9 em abril, bem distante dos 60,6 em dezembro de 2017. O PMI da indústria na Alemanha foi 44,4 em abril (63,3 em dezembro de 2017). Este indicador quando está abaixo de 50, significa que o PIB apresenta grandes dificuldades para crescer, podendo até regredir.
Perante a evolução do PMI da indústria na Europa, não foi surpresa a Comissão Europeia (CE) ter reduzido mais uma vez a estimativa de crescimento da Zona Euro para 1,2% em 2019 e 1,5% em 2020. Só como comparativo, o PIB nos EUA cresceu no 1.º trimestre em termos anualizados 3,2%.
As maiores deceções económicas são a Alemanha, que a CE estima que cresça este ano apenas 0,5% e 1,5% em 2020. A economia alemã é das que mais sofre com as turbulências comerciais, dado que é uma economia muito exportadora, especialmente no setor automóvel. A turbulência comercial EUA/China e EUA/Europa tem consequências negativas na evolução da maior economia da Zona Euro.
Outra deceção é a Itália, cujo PIB deve crescer segundo a CE, apenas 0,1% este ano e 0,7% em 2020. Números muito pobres de um governo populista que sempre achou que poderia fazer milagres.
Os países da Zona Euro com melhores estimativas de crescimento em 2019 são Malta (5,5%), Irlanda e Eslováquia (3,8%), Letónia, Eslovénia e Chipre (3,1%), Estónia (2,8%) e Lituânia (2,7%).
Outro dos principais parceiros comerciais de Portugal, a Espanha, deverá crescer este ano 2,1% e 1,9% em 2020.
Face à previsão de inverno, a CE manteve o crescimento do PIB em Portugal em 1,7% em 2019 e em 2020.
Apesar do fraco crescimento do investimento e da redução do crescimento das exportações, a economia portuguesa deverá crescer mais do que a média da Zona Euro, devido ao consumo privado, o que terá consequências negativas: um maior défice da balança de bens e serviços (mais importações) e maior endividamento externo.
A CE estima para Portugal em 2019 uma inflação de 1,1% (1,4% para a Zona Euro), uma taxa de desemprego de 6,2% (7,7% na Zona Euro), um défice da balança transações correntes de 1% do PIB (excedente de 3,3% na Zona Euro) e um défice público de 0,4% (défice de 0,9% na Zona Euro).
A incerteza mantém-se elevada na Zona Euro. Os efeitos do Brexit e os riscos de um aumento do protecionismo, especialmente dos EUA, mantêm-se num nível elevado, especialmente a imposição de tarifas ao setor automóvel europeu, onde as marcas alemãs são o principal alvo. Por outro lado, existem ainda dúvidas sobre o "turnaround" da economia chinesa: o PMI industrial da China foi em abril de 50,2 (50,8 em março), ou seja, está praticamente no valor de 50, que marca a fronteira entre crescimento e dificuldades em crescer.
Vamos ter eleições europeias e os resultados poderão também criar volatilidade. O crescimento dos partidos populistas e extremistas é uma realidade que não se pode esconder e que pode provocar efeitos negativos nos indicadores de confiança económica. Não está fácil!
Economista