Opinião
Investimento é a chave para o crescimento
Para mudar o modelo económico português, as duas principais variáveis macroeconómicas para apostar são as exportações e o investimento.
Relativamente às exportações, desde há dois anos que os empresários portugueses têm desbravado caminho, conquistado novos mercados, reforçado os mercados actuais e melhorado a balança comercial e a taxa de cobertura das importações pelas exportações. Independentemente de uma boa parte do valor exportado ser devido aos produtos refinados do petróleo, o facto é que ele existe e contribui para as exportações.
A outra variável de aposta é o investimento. Aqui o cenário tem sido bem mais complicado. Se analisarmos a evolução do indicador de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) a preços correntes, verificamos que desde 2008, ano em que segundo os dados do INE a FBCF atingiu os 38.634,6 milhões de euros, este indicador caiu até 2013 cerca de 37%. As maiores quedas anuais ocorreram em 2009 (10,4%) e em 2012 (14%).
O aumento do risco soberano de Portugal teve efeitos muito negativos: a oferta de dinheiro diminuiu fortemente, o custo do mesmo subiu significativamente e a atractividade do país face a investidores estrnngeiros caiu a pique.
Com o fim do Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF) e com o percurso do País na consolidação das contas públicas, os mercados financeiros têm olhado para Portugal de outra forma. Tal é visível no spread da dívida pública com maturidade de 10 anos que em 2012 atingiu mais de 1400 pontos base (1 ponto base = 0,01%) e que actualmente se encontrava em cerca de 230/240 pontos base.
A melhoria do risco do País é benéfica para a diminuição dos encargos financeiros da dívida do Estado, mas também é benéfica para as condições de financiamento dos bancos e, consequentemente, das empresas.
Caso a trajectória positiva da redução do custo do dinheiro continue, sendo que para isso, é fundamental a continuação do processo de consolidação das contas públicas, as condições de financiamento serão mais propícias ao investimento. Contudo, algumas questões têm que ficar salvaguardadas.
Primeiro, deve apostar-se em investimento predominantemente direccionado para os sectores de bens transaccionáveis.
Segundo, as empresas nacionais têm que procurar um mix de financiamento mais equilibrado entre capitais próprios e dívida financeira. Não podemos reverter o processo de redução da dívida privada dos últimos dois anos.
Terceiro, a aposta na formação e o esforço na melhoria das qualificações das pessoas tem que continuar, pois só assim, as nossas empresas podem ser mais eficientes e aumentar a produtividade. É determinante a aposta na tecnologia e na inovação.
Quarto, as políticas públicas têm que ser controladamente agressivas, isto é, serem facilitadoras do investimento e criando condições de apoio ao empreendorismo e ao capital de risco.
Quinto, a captação do investimento estrangeiro é crucial para darmos o salto qualitativo e não perdermos o contacto com as economias desenvolvidas. As reformas feitas e as que faltam fazer são cruciais.
Sexto, em determinados sectores industriais, a concentração é um factor importante para se ganhar escala produtiva, trunfos de negociação nos contratos de compras e de fornecimento de produtos e serviços, melhores condições de financiamento e, consequentemente, melhor performance económica e financeira. E num País onde 90% das empresas são PME, algumas operações de concentração serão bem vindas.
Economista. Autor do livro Gestão de Activos Financeiros - Back to Basis