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Opinião
31 de Julho de 2014 às 18:30

Alguns temas para os próximos meses

Na última semana, o FMI reviu ligeiramente em baixa a expectativa para o crescimento do PIB mundial em 2014 (para 3,4%), mantendo a previsão de um crescimento de 4% para 2015.

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A revisão em baixa é, sobretudo, explicada por factores negativos temporários e não põe em causa a expectativa de uma recuperação da actividade, em particular nos EUA mas, também, na Europa. Estas previsões, bem como outras agora divulgadas – por exemplo, revisões em baixa dos crescimentos de França, da Rússia, da China e do Brasil – reflectem alguns dos temas e riscos que deverão marcar a conjuntura económica nos próximos meses.

 

Em primeiro lugar, como irá evoluir a política monetária do Fed perante a melhoria da actividade económica nos EUA? Para além da tendência de recuperação do mercado de trabalho, as últimas semanas têm sido marcadas por uma "earnings season" positiva. Os indicadores mais recentes sugerem também uma evolução favorável do consumo das famílias e do investimento das empresas, bem como uma tendência de subida da inflação, embora ainda em valores moderados. Nesta segunda metade de 2014, veremos se prevalece a actual visão do Fed – de que persiste uma elevada capacidade produtiva excedente na economia, contendo a inflação e justificando a manutenção dos juros de referência aos níveis actuais por um tempo prolongado – ou se a recuperação da actividade tenderá a antecipar expectativas inflacionistas e de subida dos juros de referência.

 

Na Zona Euro, parece ainda faltar tracção à actividade económica. É verdade que alguns sinais positivos são visíveis na periferia, com revisões em alta das perspectivas de crescimento em Espanha e na Irlanda, e com a Moody's a rever o "rating" soberano de Portugal. Mas o crescimento no conjunto da Zona Euro é ainda insuficiente para afastar riscos deflacionistas, mantendo-se o BCE sob pressão para adoptar novos estímulos monetários. É provável, no entanto, que o Banco Central mostre alguma resistência a novas medidas. Por um lado, são visíveis alguns sinais de estabilização no mercado de crédito; por outro lado, o BCE poderá querer esperar pelos resultados da "asset quality review" e "stress tests", confiando que os fluxos de financiamento da actividade económica tenderão a normalizar-se depois disso. Uma parte da recente quebra do sentimento empresarial na Zona Euro estará relacionada com os riscos geopolíticos, dadas as tensões crescentes no Médio Oriente e na Ucrânia, neste caso com os riscos associados às sanções e retaliações entre a UE e a Rússia. O Banco Central russo foi já obrigado a elevar os juros de referência para 8%, procurando contrariar a pressão para a saída de capitais e para a depreciação do rublo, com a economia a enfrentar um sério risco de recessão. Para a UE, subsiste o risco de subida dos preços do gás importado da Rússia, num momento em que a recuperação da actividade é ainda frágil. Ainda no campo político, a segunda metade do ano será marcada pelo referendo sobre a independência da Escócia e pelo possível referendo sobre a soberania da Catalunha, em ambos os casos com potenciais efeitos sobre o sentimento económico.

 

Nos Emergentes, os últimos meses têm visto uma recuperação dos influxos de capitais, mas algumas destas economias mantêm-se vulneráveis, em função da persistência de desequilíbrios macroeconómicos e perante um eventual início de normalização da política monetária nos EUA. O Brasil continua a lidar com pressões inflacionistas, num quadro de desaceleração do crescimento, necessitando de um maior foco em políticas de ajustamento estrutural do lado da oferta. As eleições presidenciais de Outubro não deverão, no entanto, trazer alterações significativas na orientação da política económica. No imediato, as atenções deverão focar-se, contudo, na Argentina, perante um novo "default" e já a lidar com uma recessão e com uma inflação muito elevada. Na China, os indicadores mais recentes têm sustentado um cenário de estabilização do crescimento. Não pode ser esquecida, contudo, a necessidade de uma desalavancagem adicional da actividade nesta economia, que deverá forçar uma moderação do crescimento, com alguns riscos pelo caminho. Em suma, a segunda metade de 2014 traz-nos uma conjuntura económica bastante preenchida.

 

Economista Chefe do BES e Docente Universitário

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