Opinião
Seguro e os "maus ventos" de Chipre
António José Seguro costuma fazer uso frequente do apoio dos parceiros europeus (François Hollande, Peer Steinbrück, líder do SPD alemão…) para defender menos austeridade para Portugal. Mas, a avaliar pelo que se passa em França e pelo que se passou na crise de Chipre, o líder do PS não vai poder continuar a contar com os seus "amigos".
Porquê? Hollande está a ser pressionado pela OCDE para fazer reformas que Seguro contesta em Portugal. O SPD de Peer Steinbrück, da mesma família política do PS, está irreconhecível: o partido foi tão ou mais duro na negociação do "bail-out" de Chipre do que a dupla CDU de Angela Merkel. À medida que vão sendo conhecidos detalhes das negociações do "bail-out" (ver imprensa internacional) percebe-se que a pressão maior para forçar os depositantes de Chipre a participar no resgate veio do… SPD. Partido que também quis acabar com a taxa de 10% (IRC) que vigora naquele país, assim como a recusa em utilizar fundos do ESM (European Stability Mechanism) para capitalizar os bancos cipriotas.
Se a tudo isto somarmos o oportuno "silêncio" do SPD relativamente à mutualização da dívida europeia, plano abertamente defendido pelo partido até há poucos meses, percebe-se como os ventos mudaram em Berlim. Aparentemente o SPD percebeu que ou muda de ideias ou perde as eleições... Mais uma razão para Seguro não confiar muito na solidariedade da sua família política. Nem agora nem, provavelmente, depois das eleições alemãs: porque se do Bundestag sair uma grande coligação, Berlim vai continuar a recusar qualquer tentativa de relaxar os esforços de ajustamento no Sul da Europa. Vamos ver se Seguro entendeu a mensagem.
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