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O desemprego e a hipocrisia do FMI

A Troika pode dizer que Portugal está a andar devagar em algumas reformas estruturais (a da lei laboral só agora ficou fechada, a da Justiça ainda não está no terreno, a da concorrência não produziu efeitos - v.g. nas telecomunicações e energia)… É verdade. Mas sacudir a água do capote quanto aos efeitos do ajustamento no desemprego é uma vergonha.

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O FMI diz que está chocado com a evolução do desemprego em Portugal. É uma declaração surpreendente. Para não dizer chocante… Porque a instituição está farta de saber que a economia portuguesa é dominada pelos sectores não transaccionáveis (onde não há concorrência). E que esses sectores viveram os últimos 20 anos à sombra da orgia de endividamento do Estado. Ora se o Estado começa a reduzir despesa, é natural que nesses sectores um sem número de empresas fechem as portas (por excesso de oferta) ou façam despedimentos.

 

Mas há outra área onde a hipocrisia do FMI choca. É que parte do desemprego de 2012 e de 2013 deve-se ao estrangulamento financeiro das empresas, provocado pelo aperto na política de crédito decretada pela própria Troika. Recordo-me que na 3.ª avaliação do programa, quando já estava claro que se vivia um "credit crunch" em Portugal, questionei a Troika sobre o assunto. A resposta foi: "Os números não confirmam isso". Mas tanto era assim que na 7.ª avaliação a Troika acabou com a obrigatoriedade de os bancos cumprirem rácios de transformação tendentes a reduzir a alavancagem da economia.

 

A Troika pode dizer que Portugal está a andar devagar em algumas reformas estruturais (a da lei laboral só agora ficou fechada, a da Justiça ainda não está no terreno, a da concorrência não produziu efeitos - v.g. nas telecomunicações e energia)… É verdade. Mas sacudir a água do capote quanto aos efeitos do ajustamento no desemprego é uma vergonha. Porque a Troika sabe o quão dependente do Estado está o tecido produtivo português. E sabe também que há muitas empresas, nomeadamente as exportadoras, que só não investem porque não têm crédito.

 

camilolourenco@gmail.com

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