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De PIGS a nórdicos do Sul em 5,3 segundos

A irritante onda mediática que se formou subitamente sobre Portugal tem o valor das aparências – e deve ser surfada com estilo enquanto durar.

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Há pouco mais de quatro anos, a BBC abriu um artigo sobre o Porto com seis mulheres que lavavam a roupa em tanques públicos. Para o jornalista, aquele "equivalente medieval de uma lavandaria" era "a única coisa" que "as pessoas sem dinheiro para electricidade ou para reparar uma máquina de lavar roupa podiam usar". Estávamos na altura em que Portugal era o P do humilhante acrónimo PIGS e em que toda e qualquer leitura nos media pegava em histórias simbólicas, mesmo que desligadas da austeridade, para ilustrar o peso da crise.

 

É altamente provável que aquelas mulheres continuem hoje a lavar a roupa nos mesmos tanques. Mas agora não são vítimas do "peso da austeridade" - foram elevadas ao estatuto de "nórdicos da Europa", para citar o jornal La Voz de Galicia, que adoptou o "soundbite" do Presidente Marcelo. Se em 2012 o The Wall Street Journal citava os números terríveis da falta de qualificações dos portugueses, esta semana a Forbes elogiou a população "jovem e qualificada" que faz de Portugal um destino óbvio de investimento. Até o desemprego jovem, antes repisado em inúmeras reportagens, é visto agora pela Forbes como sinal da existência de "um reservatório de talentos", impacientemente à espera de uma oportunidade" (!).

 

Portugal não era redutível a um "pig" sobreendividado, mal qualificado e preguiçoso em 2012, como não se tornou de repente na Suécia do Sul da Europa. Eu, por exemplo, sinto-me pouco nórdico e não é só pela cor escura do escasso cabelo que me resta. Suponho que para muitas pessoas que vivem em Portugal seja difícil ler e ouvir estas coisas sem uma dose de cinismo, de humor ou de pura irritação. No Portugal dual, uma grande parte da população ainda vive no lado com menos luz - o dos salários baixos e estagnados na retoma, da cultura de trabalho inimiga do mérito e da conciliação com a família, da emigração forçada pela necessidade. Estes títulos que ouvem aqui e ali são desligados da sua realidade. 

 

E, no entanto, esta transformação da imagem externa do país é mais do que mera espuma ou mel para a propaganda política. Tem o valor das aparências. Ajuda ao financiamento mais barato da República, à atracção de pessoas qualificadas e de investimento a partir do exterior, à revolução estrutural no turismo, às exportações e à (re)construção de uma marca para o país. Não é pouco. Vale empregos e potencialmente salários mais altos a prazo, apenas para citar o lado económico da coisa.

 

Para quem há décadas tinha um problema claro de imagem - ou, como testemunhei em Pequim quando lá trabalhei em 2003, para quem não tinha sequer imagem numa potência como a China -, a onda é para surfar com estilo enquanto durar. Como estamos a assistir agora, o efeito de halo na forma como olham para nós é muito forte. Portugal é uma pequena economia aberta, vulnerável ao vento que sopra de fora, com grandes fragilidades estruturais que se mantêm e que serão notícia numa nova crise. Nessa altura, as lavadeiras do Porto vão voltar a aparecer na imprensa internacional. Até lá é aproveitar o que se puder - de preferência sem perder de vista cá dentro que realidade e aparência não são a mesma coisa.   

 

Jornalista da revista Sábado

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