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Robles, o bloquista do prédio com mansarda 

Ricardo Robles era o campeão político na Câmara de Lisboa contra a especulação imobiliária e a gentrificação do centro histórico. Por ironia do destino, descobriu-se que ele próprio era um agente que participava com proveito nesse fenómeno.

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O caso do prédio em Alfama de Ricardo Robles, o vereador do Bloco de Esquerda que por causa do escândalo renunciou ao cargo, só é relevante por causa da incoerência do político que denunciava a especulação, o "bullying" contra os inquilinos, a gentrificação, e votava contra mansardas nos centros históricos, reconstruindo ele próprio um prédio em que transformou um sótão numa sumptuosa mansarda.

 

Graças a vários factores, como o turismo, o facto de Lisboa ter ficado na moda e a baixa de juros, assistimos a um fenómeno de especulação imobiliária no centro histórico da capital. Uma zona que estava envelhecida, a apodrecer, com prédios a ruir. Basta ter memória de há meia dúzia de anos para saber como era Alfama, Mouraria ou o Castelo, votados ao abandono. Não foi nenhuma entidade pública nem os incentivos dos diversos programas que recuperaram esses bairros, agora de cara lavada. Foi aquilo que se chama especulação, mas que é de facto investimento imobiliário, que por força das circunstâncias de mercado está a ter um retorno elevado, que mudou a face desta Lisboa agora invadida a cada momento por milhares de turistas, que deixam dinheiro e criam postos de trabalho.

 

O problema de Robles é a síndrome do Frei Tomás, que diz muito sobre o Bloco de Esquerda. Entre o que diz e o que faz há uma contradição insanável. Robles renunciou ao cargo, mas a direcção do Bloco não fica bem neste caso. Algumas reacções de Catarina Martins aproximaram-na perigosamente de Donald Trump, quando falava nas "fake news" para abafar o escândalo.

 

A política, tal como a vida, é rica em ironia. E nada mais irónico que o campeão da política lisboeta contra a gentrificação e a especulação imobiliária ser ele próprio agente desse processo. Mais irónico do que isso é impossível, só se o PCP fosse accionista de um banco, ou o deputado do PAN tivesse uma ganadaria com touros para lide em tourada.

 

O Robles político e o Robles investidor fazem relembrar duas personagens distintas, dois heterónimos pessoanos. E até dá para citar uma frase de um dos grandes poemas da língua portuguesa, "Tabacaria", de Álvaro de Campos. "Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, ainda que não more nela."

 

Quanto à gentrificação, que não é exclusivo de Lisboa ou Porto, mas um fenómeno de grandes cidades da Europa e dos EUA, é um problema político que urge combater. Mas esse papel cabe ao poder político. E no caso de Lisboa, a autarquia, além de medidas legais, pode intervir no mercado, porque é o maior proprietário da cidade.

 

Saldo positivo: baixa do desemprego

 

Uma história feliz dos últimos anos da economia portuguesa tem sido a redução significativa da taxa de desemprego. A taxa mais baixa em 16 anos é um dado para festejar. Com 7%, basta um pequeno empurrão na economia para que chegue próximo do pleno emprego. Já há sectores, como a construção, ou a hotelaria em algumas regiões, em que há manifesta falta de mão-de-obra. Mas nem tudo são rosas. Muito do novo emprego é precário e mal remunerado e a qualificação dos trabalhadores deixa muito a desejar.

 

Saldo negativo: subida das comissões bancárias

 

Em nenhum negócio há milagres e os grandes responsáveis pelo regresso da maré de lucros à banca são os clientes, cada vez mais sobrecarregados com comissões. No tempo de grandes margens de juros, o custo de manutenção das contas e dos serviços bancários não era tão visível. As margens de intermediação davam para quase tudo. Mas a baixa de juros, os créditos tóxicos e a nova regulação mudaram completamente o negócio da banca. E quem acaba por pagar a conta final são os clientes.

 

Algo completamente diferente: um país que sabe fazer campeões em futebol 

 

Há poucos sectores económicos em que Portugal é tão bom a nível internacional como no futebol. O país é campeão europeu em seniores, tem o ainda melhor jogador do mundo, treinadores reputados, empresários de referência. A selecção sub-19 juntou mais um troféu a esta saga. Os jovens portugueses sagram-se campeões da Europa. O torneio revelou novas promessas e mostra que a formação dos clubes portugueses é de excelência, apesar de muitos atletas já representarem emblemas estrangeiros. Oxalá as escolas e as universidades portuguesas tivessem nível semelhante.

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