Opinião
Pequena poupança sofre mais um golpe
O Governo deu mais um golpe no incentivo à pequena poupança com a extinção sumária dos certificados de tesouro poupança mais. Os substitutos dão um rendimento muito inferior. Com os juros dos depósitos perto de zero, as famílias têm mais apetência para gastar com a ajuda de crédito fácil e barato.
Na semana passada o Governo português matou o produto de poupança mais popular do país, os certificados de tesouro poupança mais (CTPM). Foi uma execução sumária, dado que a morte foi anunciada num dia e os aforradores só tiveram 24 horas para subscrever um produto de baixo risco a uma taxa interessante. Os substitutos têm um nome pomposo, mas rendem muito menos juros. A medida é uma excelente notícia para os bancos, uma vez que os depósitos tradicionais, com rendimento garantido, oferecem taxas bastante inferiores aos dos CTPM.
Parece ironia, mas o decreto da morte dos antigos certificados do tesouro foi anunciada poucos dias antes do dia mundial da poupança. O Estado devia ter um papel de incentivo da poupança das famílias e é importante que uma percentagem da dívida pública esteja em mãos nacionais. É um seguro contra as crises do mercado. Hoje a pequena poupança, sem apetência pelo risco, tem poucas alternativas interessantes. Não é por acaso que, sem incentivos, a poupança, que era uma preocupação das famílias até há duas décadas, seja agora uma coisa rara.
Por outro lado, com os juros tão baixos e a forte concorrência bancária que reduz ainda mais o preço do dinheiro com o corte nos spreads, que embora ainda longe dos valores pré-troika estão a sofrer cortes graduais nos últimos dois anos, as famílias usam cada vez mais o crédito para compra de casa, bens e serviços. O país que na ressaca do resgate se lamentava pelo excesso da dívida privada, voltou a ter uma espiral de crédito.
O recurso ao crédito por parte das famílias é perfeitamente racional, o dinheiro está barato e podem viver melhor e com acesso a mais bens graças ao empréstimo. O problema é que nos créditos à habitação, com prazos de amortização de 20, 30 ou 40 anos ninguém garante que o dinheiro continue barato para sempre. E por outro lado, já está provado que a valorização dos activos imobiliários não é uma lei da física. Que o digam os milhares de portugueses que tiveram de vender a habitação no período pós-troika com prejuízo face ao valor de compra.
Por vários factores conjunturais, desde a baixa dos juros, até à descoberta de Portugal por investidores externos e o 'boom' turístico que graças a plataformas online gerou um interessante negócio de renda de curta duração que valorizou as casas nas principais cidades e zonas turísticas, o mercado imobiliário tem subido muito acima da inflação. O perigo destas subidas, em tempos de dinheiro barato, é a geração de bolhas.
Saldo positivo: redução da dívida pública
A dívida pública baixou 1.200 milhões de euros em Setembro e voltou abaixo do patamar de 250 mil milhões. É uma boa notícia, porque o ciclo de subidas consecutivas do valor global da dívida foi interrompido. O valor do endividamento até poderá sofrer um alívio face ao valor do PIB, mas continuará a ser um factor condicionante do crescimento da economia portuguesa. E é importante ter em conta que o tempo do dinheiro fácil e barato não vai durar sempre.
Saldo negativo: Azeredo Lopes
Afinal o enredo das guerras de Solnado está vivo com versão actualizada. O desaparecimento do material de guerra de Tancos, depois recuperado na Chamusca, com a notícia que afinal até foi encontrado mais material do que o oficialmente furtado, é uma história inacreditável que coloca em xeque a instituição militar. É um assunto demasiado grave, num mundo onde as ameaças terroristas são reais, para neste país ser tratado como se fosse um quadro de revista do Parque Mayer.
Algo completamente diferente: O cientista que escreve um livro em emigrês
João Magueijo nasceu em Évora, vive em Londres, é um cientista reconhecido, lecciona Física Teórica no Imperial College. Gozou com os britânicos em 'Bifes mal passados' e agora lança um livro sobre uma comunidade que conhece bem, os portugueses de Toronto. Escrito com termos em emigrês, onde não falta o vernáculo. O título 'Olifaque' é emigrês puro que remete para o vernáculo, onde um palavrão não é um insulto, mas um sinal de pontuação. Por esta homenagem aos milhões de portugueses na diáspora, desprezados por uma certa elite, o livro já vale a pena.