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O xamã das Finanças 

Em Portugal há uma longa tradição, consolidada por António de Oliveira Salazar, de atribuir poderes mágicos aos ministros das Finanças.

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Deles se espera que alcancem o equilíbrio orçamental e façam crescer a economia. Mas na realidade, apesar da competência técnica, do brioso currículo académico, costumam ter tanta eficácia como os xamãs das tribos índias, quando fazem as danças da chuva. Umas vezes chove, mas na maioria das vezes não.

 

E Mário Centeno, que hoje apresenta publicamente o programa de estabilidade e crescimento, é obrigado a fazer uma grande revisão em baixa face ao seu cenário cor-de-rosa que serviu de base para as promessas eleitorais de António Costa e do Partido Socialista.

 

O dinheiro distribuído nos aumentos de rendimentos aos funcionários públicos, aos reformados, a actualização do salário mínimo e a reversão parcial da sobretaxa contribuiu para a evolução positiva do rendimento disponível, pode gerar dividendos eleitorais, mas não foi suficiente para a aceleração do PIB e da criação de empregos.

 

Com a estagnação prevista para o próximo ano, Portugal prolonga o calvário da anemia económica que dura, praticamente, desde a adesão ao euro.

 

A verdade é que a evolução do PIB depende de variáveis que não estão sob alçada directa de qualquer varinha mágica do Ministério das Finanças como a evolução do investimento produtivo, a produtividade e a inovação nas empresas. Centeno, se equilibrar as contas do Estado e livrar os contribuintes de mais subidas de impostos, já cumprirá bem o seu papel. Mas, neste país, talvez seja mais eficaz para os contribuintes confiarem na dança de um xamã para impedir o agravamento fiscal do que esperar milagres do ministro das Finanças de um Estado gastador.

 

Director-adjunto do Correio da Manhã

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