Opinião
Estado macabro a que o Estado chegou
Dois cidadãos que vão a consultas de rotina num hospital apanham uma infecção e morrem. O surto da legionella teve ainda um episódio mórbido quando o Ministério Público descobriu que os corpos das vítimas não tinham sido autopsiados.
A retirada de corpos de um velório para fazer uma autópsia a duas vítimas de legionella é um episódio macabro. Foi mais uma falha do Estado que causou dor às famílias que perderam pessoas que tiveram o azar de ir um hospital fazer um exame de rotina e acabaram infectados por uma bactéria que lhes retirou a vida.
As primeiras vítimas deste surto tinham uma vida normal. Simão Santiago, advogado de 77 anos, que gostava de caçar, teve o supremo azar de ir fazer análises a um hospital com legionella, o mesmo azar que teve Maria da Graça Ribeiro, uma mulher de 77 anos que sofria de diabetes.
Há quem culpe os cortes no investimento público e as cativações por estas mortes. Não creio que o problema seja o de dinheiro. Provavelmente há menos intervenções cirúrgicas, menos actos médicos e menos consultas por causa dos cortes, mas manter a qualidade do ar num hospital e lutar contra as infecções é uma questão fundamental, uma prioridade básica de qualquer administração hospitalar.
Não é necessariamente uma questão de dinheiro, é uma questão de responsabilidade, até porque limpar o ar e vigiar a qualidade do ar, deve ser uma rotina constante em qualquer unidade hospitalar.
Este triste caso da legionella mostra que até num dos serviços públicos de excelência há sinais preocupantes de desagregação.
Tal como na tragédia dos fogos e o abandono das populações nos dias mais infernais, o falhanço do Estado não se deveu exclusivamente à falta de meios financeiros. As cativações podem servir de desculpa, mas a incompetência, a descoordenação dos meios e a incúria de quem cabe proteger as populações não é necessariamente culpa da escassez de meios.
Estes tristes casos ofuscam a boas notícias da economia. A actividade económica está a registar um comportamento positivo, o desemprego baixa, os juros da dívida aliviam a pressão sobre as contas públicas, o imobiliário valoriza e o turismo vive o melhor ano de sempre.
Mas a nível de ambiente social António Costa tem a sorte de ter domado o Bloco de Esquerda e o PCP. Imagine-se a agitação social que se viveria se a tragédia dos fogos ou a desgraça da legionella tivesse acontecido num governo sem apoio da geringonça. O perigo para o PCP e Bloco é que ao desistirem da sua importante função tribunícia, mais tarde ou mais cedo, alguém vai ocupar esse lugar. Na política, tal como na física, também há horror ao vazio.
Saldo positivo: Juros mais baratos
A emissão de juros da dívida pública com taxa inferior a 2% em obrigações com o prazo de dez anos é uma excelente notícia e um alívio na pressão nas contas de um país tão endividado. Portugal parece que já não é olhado como um preocupante paciente do sul da Europa. Os mercados apontam para o lado positivo e dão mais margem de manobra. No entanto, o prémio de risco exigido face à Alemanha ainda é gigantesco e o objectivo devia ser o de baixar esse custo.
Saldo negativo: petróleo mais caro
Num país tão dependente das importações energéticas, a subida do preço do petróleo coloca alguma pressão na economia, nas empresas e nos orçamentos familiares. É certo que o crude já esteve bem mais caro do que os patamares atuais, mas se os preços continuarem a subir, vamos assistir a um agravamento de custos. Entretanto com a subida dos preços e dada a carga fiscal, o Fisco continua a ganhar milhões nos combustíveis, dada a pesada factura fiscal sobre a gasolina e gasóleo.
Algo completamente diferente: a grande feira de vaidades que faz bem a Lisboa
Lisboa ganha com a Webb Summit. Lucra a hotelaria, a restauração e muitas áreas de serviços. Há ainda ganhos de imagem que valorizam a cidade e o país. No mercado europeu de turismo de congressos, Lisboa é um destino de referência e grandes iniciativas cimentam esse estatuto. Mas é também um evento como muitos outros, uma grande feira de vaidades, onde não faltam versões circenses. Quanto a negócios gerados não terão sido proporcionais à gigantesca atenção mediática que o evento despertou em Portugal.