Opinião
A ameaça da dívida que pesa sobre Portugal
O ritmo de redução da dívida pública é demasiado lento, num período em que o país está em retoma e o preço do dinheiro em mínimos históricos. Quando as taxas de juro voltarem a subir, Portugal voltará a sentir de forma mais aguda o custo deste brutal peso.
Uma das conquistas de Mário Centeno nas Finanças, além da redução substancial do défice, é a inversão da tendência de subida da dívida pública. Estar a descer é um bom sinal, mas a velocidade deste deslizamento é demasiado lenta. Portugal não está a aproveitar o ciclo favorável de crescimento económico e de juros a preço de saldo.
Ter passado dos 60% do Produto Interno Bruto (PIB) para quase 130% em pouco mais de uma década é uma verdadeira tragédia. Foi o crescimento deste monstro que obrigou aos sacrifícios brutais impostos pela troika, mas nem essa política de pão e água nem a privatização de algumas das últimas jóias que estavam em mãos do Estado provocaram uma redução do montante da dívida pública.
Revelam os dados do Banco de Portugal que a dívida pública na óptica de Maastricht atingiu, em Abril, 126,3% do PIB, valor acima do registado em Dezembro de 2017 (125,7%). Se olharmos para o valor absoluto, sem indexação ao PIB, notamos um facto ainda mais preocupante: o volume em euros continua a aumentar.
Este monstro acaba por ser o principal nó górdio da economia e da política portuguesas.
Por causa do brutal endividamento e apesar da generosa poupança em juros que a redução do preço do dinheiro propiciou, os contribuintes, quer as empresas quer as famílias, são alvo de uma brutal pressão para suportar uma pesada factura.
Este quadro negro, que piorará quando os juros inverterem de forma mais robusta a actual tendência, manterá uma espada de Dâmocles sobre este país, que apesar da retoma, mantém uma baixa velocidade no crescimento do PIB e está cada vez mais envelhecido.
Mas apesar disto, os responsáveis políticos não devem andar a dizer aos quatro ventos que a dívida não se pode pagar, como disse a antiga ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, perante um grupo de trabalho no Parlamento.
Numa discussão meramente académica Manuela Ferreira Leite pode ter razão, mas se os principais responsáveis continuarem a repetir esse mantra, as condições de financiamento da economia portuguesa pioram. E não nos podemos esquecer de que entre os principais credores se encontra a Segurança Social com o dinheiro das reformas.
A solução para a dívida tem de passar por um esforço de contenção da despesa pública (e, cuidado, há sinais de derrapagem) e tem de existir uma resposta europeia. Por exemplo, haver um fundo que fique com o remanescente da dívida acima dos 60% do PIB, obrigando os Estados a manter rigor financeiro, para não se repetir a tragédia.
Saldo positive: assembleia do Sporting
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