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Empreender socialmente

A apologia do empreendedorismo social não pode nem deve ser menos exigente do que seu irmão empresarial, no conhecimento e nas competências a envolver, nos passos de gigante que é preciso dar entre uma boa ideia e um bom projecto.

Tem-se falado à saciedade e com múltiplos propósitos, da economia social e do seu papel (e potencial) na economia nacional. E neste contexto o empreendedorismo social pode ser um catalisador importante daquela realidade, transformando-a também num agente promotor do crescimento económico.

 

Independentemente do que as forças políticas de esquerda possam apregoar, estamos num processo irreversível, a realidade dos números apanha-nos sempre, de cada vez menos podermos contar com o Estado como sistemático garante de todo o apoio social. Neste quadro, a criação de um espírito empreendedor activo, dinâmico, profissional, no melhor dos sentidos, a actuar no terreno social poderá ser um poderoso instrumento de uma sociedade que não desiste de ser solidária e, ao mesmo tempo, um promotor activo de desenvolvimento económico.

 

Creio que muitos de nós conhecem ou contactaram com várias iniciativas de solidariedade assentes no voluntarismo generoso, de tempo, de recursos, ou simplesmente de boa vontade e que falham, esmorecem rapidamente ou ficam longe dos objetivos a que se propunham ou do potencial que prometiam, pelas mais diferentes e variadas razões mas invariavelmente ligadas a uma incapacidade de estruturar, organizar, fazer evoluir, os objetivos, as ações, os meios, desperdiçando-se pelo meio uma enorme energia que estava disponível para agir.

 

A apologia do empreendedorismo social não pode nem deve ser menos exigente do que seu irmão empresarial, no conhecimento e nas competências a envolver, nos passos de gigante que é preciso dar entre uma boa ideia e um bom projecto, entre um bom plano e a sua concretização, na acção, na organização e na mobilização dos meios necessários.

 

O empreendedorismo social pode ser uma opção de vida para muitas formações académicas menos atreitas ao mundo empresarial ou para pessoas que tenham outros valores e objetivos de vida a prosseguir. Mas não vingará se apenas assentar na boa vontade e no voluntarismo de uns tantos, tão generoso e infelizmente não menos inconsequente, tantas vezes.

 

Deverá assimilar, assim, os mesmos valores que aplaudimos no sucesso no mundo empresarial: a visão, a inovação, o risco, a capacidade de gestão, organização e mobilização de meios e pessoas, ainda que com uma diferente missão e objetivos. E neste domínio desempenhará um papel importante as iniciativas de prémios e concursos que justamente visam destacar projetos de empreendedorismo social e que se deverão pautar por critérios de exigência que ajudem os potenciais empreendedores a passar para lá das boas intenções e serem capazes de transformar uma ideia numa organização com sucesso.

 

E do mesmo modo deverá ter associado mecanismos, mesmo que simples, de escrutínio, que mitiguem a tentação de captura de privilégios e vantagens que por vezes minam estas organizações mais informais e com reduzidos processos de controlo, descredibilizando o que de muito bom estas organizações e empreendedores podem aportar à sociedade.

 

Professor na ISCTE Business School

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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